Mega-prêmio… E a Timemania? Lembram dela?

sex, 01/01/10
por Emerson Gonçalves |
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Mega-prêmio aqui ao lado

A cidade de Santa Rita do Passa Quatro não deve ter dormido de ontem para hoje. Não pelos festejos do réveillon, mas pela agonia em saber quem ganhou o prêmio da mega-sena da virada do ano. Uma amiga nossa, vizinha de sítio, em cuja casa aguardávamos a meia-noite, ao ouvir o nome da cidade na televisão gritou, ficou ansiosa e começou a ligar para os parentes. Nas pausas, outros parentes ligavam. Todos querendo saber se alguém sabia alguma coisa. Também, pudera, o mais provável, dado o tamanho de Santa Rita, é que o ganhador seja conhecido de pelo menos um de nós, ou amigo ou mesmo parente. Coisa nada difícil, pois aqui quase todo mundo é parente de quase todo mundo, seja por sangue, seja casamento. Enfim, hoje ou amanhã saberemos quem foi o felizardo.

Atualizando: parei o texto para cuidar das vacas nessa primeira manhã de 2010 e ficamos sabendo, por um conhecido, que o ganhador é um caminhoneiro que vive boa parte do tempo nas estradas (chegou anteontem de viagem, fez o jogo e…). Gente boa, segundo quem o conhece.

(Pelo menos até esse final de tarde, parece-me que este OCE é o primeiro a dizer não quem é, pois isso não interessa,  mas como é o novo milionário.)

Bom, vamos ao futebol e à Timemania.

Com toda essa coisa de loteria, eu mesmo fiz um joguinho. Na lotérica, ao lado dos volantes da megassena, o da Timemania.

Puxa vida! Há quanto tempo, hein? Há muitos e muitos meses não jogava na loteria e, portanto, não jogava na Timemania. Fiz meus dois joguinhos de praxe, marcando o São Paulo em um volante – para quem já esqueceu, sou são-paulino – e marcando o meu MAC no outro – Marília que precisa voltar para a Segundona, engrenar novamente e chegar à Primeirona. E fiquei a pensar no fracasso dessa loteria, criada para salvar os clubes. Sobre isso, porém, muito já foi dito e não adianta ficar chovendo no molhado. A razão de ser desse post é a nova distribuição da verba a que os clubes têm direito.

A Timemania tem a seguinte distribuição de seus recursos:

Prêmios 46%
Clubes 22%
Custeio e manutenção 20%
Ministério do Esporte 3%
Fundo Penitenciário Nacional 3%
Fundo Nacional de Saúde 3%
Lei 9615 2%
Securidade social 1%

Essa parcela de 22% dos recursos é dividida em duas partes: uma de 2%, que será paga aos clubes de acordo com sua participação no “Time do Coração”. E outra, com os restantes 20%, distribuída pelos 80 clubes que, por sua vez, estão distribuídos em quatro grupos. Cada grupo tem direito a uma parcela desse total de recursos:

Grupo I – vinte clubes 65%
Grupo II – vinte clubes 25%
Grupo III – quarenta clubes 8%
Grupo IV – dezenove clubes (fora do volante) 2%

Até esse final de 2009, o valor arrecadado era distribuído em partes iguais entre os membros de cada grupo. A partir de hoje, 1º de janeiro, a distribuição será feita proporcionalmente à participação de cada torcida no Time do Coração e cada grupo passa a ter a formação ditada pelo Time do Coração. Vários clubes perceberam a importância desse momento e trabalharam para, nessa reta final, concentrarem esforços para garantir uma posição ou para subir na lista. Vejam o resultado do último teste de 2009:

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No primeiro caso temos o Coritiba. A torcida coxa branca apostou tanto no último teste do ano que ficou atrás somente da torcida do Flamengo. Com isso, não só garantiu sua presença na “primeira divisão” lotérica, como ainda ficou uma posição à frente do rival Atlético. Certo que foi no photochart, mas à frente, um resultado importante nesse final de ano marcado pelo rebaixamento e, sobretudo, pela violência no jogo final no estádio e fora dele (e o presidente foi reeleito, da mesma forma que parlamentares e executivos diversos vivem sendo reeleitos).

E o esforço concentrado da torcida do Juventude colocou o clube na “primeira divisão” da Timemania, em 20º lugar. Um consolo para o rebaixamento para a Série C, mas – por que não? – um sinal de alento para o clube e para seus jogadores.

Já o Sport, que estava no Grupo I, caiu para o Grupo II, ao ficar em 21º lugar na indicação Time do Coração. Definitivamente, 2009 não foi o ano do Leão da Ilha.


Vejam a lista dos 20 clubes mais indicados com seus percentuais, que até 31 de dezembro de 2010 dividirão, proporcionalmente, 65% dos 20% da arrecadação dos testes da Timemania.

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Na sequência, os times que passam a compor o Grupo II, dividindo 25% dos 20% dos recursos arrecadados pela loteria. Dentre eles, dois times na Série A do Campeonato Brasileiro: Avaí e Guarani. E mais Sport, Náutico, Figueirense, Ponte Preta, Santa Cruz, Portuguesa de Desportos e Ipatinga, que até mais ou menos recentemente também estavam na Série A. Exceção feita ao Santa Cruz, os demais disputarão a Série B do Brasileiro em 2010.

Captura de tela inteira 01012010 165025

Finalmente, mais para uma comparação, vejam a composição desse Grupo I no acumulado de 2008. Poucas diferenças, basicamente a saída do Sport e a entrada do Juventude, e algumas mudanças de posição, como a do Coritiba. Reparem que o bravo Ceará está presente nas duas listas. No mínimo um bom indicativo que o clube, finalmente, está na divisão do futebol que sua torcida merece. Infelizmente para os cearenses e principalmente para os torcedores do  Fortaleza, o clube, até melhor colocado que o rival na “primeira divisão” lotérica, caiu para a Série C em 2010. A turma do gramado não correspondeu à turma da arquibancada, mas, como já disse a respeito do Juventude, essa dedicação da torcida é um alento para os atletas e um recado mais do que claro para os dirigentes.

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Vocês devem ter reparado que não falei em valores. Ainda. Espero para os próximos dias os valores consolidados de 2009. Baixos valores, desafortunadamente. Se bem que isso tem menos a ver com a fortuna do que com a competência de todos os envolvidos.

Há muita movimentação nos bastidores em torno dessa loteria. Por enquanto, está parecendo aquelas tardes tempestuosas, quando a natureza capricha no cenário, tinge as nuvens do mais carregado cinza-chumbo, abre sua caixa de efeitos especiais e dispara ventos poderosos, velozes e barulhentos. Não mais que meia hora depois, o sol volta a brilhar, sem que um só pingo de chuva tenha caído, ou, quanto muito, meia dúzia deles. Aliviados, voltamos à lida e as vacas voltam a pastar pacificamente, elas que abominam os ventos. Muita mise-em-scène a troco de nada, só exibição.

Assim me parece a Timemania, nessa tarde de 1º de janeiro de 2010. Sigo acreditando que, reformulada, ela é a melhor ou a menos ruim das soluções para as dívidas fiscais dos clubes.

Que o ano nos seja leve e feliz.


Timemania, lembra dela?

dom, 12/07/09
por Emerson Gonçalves |
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A loteria criada para ajudar os clubes de futebol a pagar seus débitos fiscais já realizou 72 testes, no decorrer de pouco mais de um ano de vida. Antes de seu lançamento, havia a expectativa de arrecadar 500 milhões de reais por ano, valor que, se atingido e melhor ainda ultrapassado, traria significativo aporte de recursos para…

A Receita.

Exato, para a receita federal (a própria Receita, INSS e outros órgãos) e não para os clubes de forma direta, que do dinheiro arrecadado em seus nomes não veriam sequer a cor. Essa, sem dúvida, era e é uma boa coisa na Timemania, principalmente se levarmos em conta que o IGD – Índice de Gastança Desmedida – dos dirigentes do futebol de Pindorama é coisa de louco. Isso, naturalmente, para dizer o mínimo possível. Justamente por esse motivo, este Olhar Crônico Esportivo desde o início considerou que a loteria era uma boa saída para os clubes, uma vez que caberia aos próprios torcedores bancarem ou não esse pagamento, sem comprometer as burras do Tesouro, como de hábito, e mesmo estes só o fariam se assim se sentissem motivados.

Loteria fraquinha

E foi aqui que o bicho pegou. Embora adore loteria, o brasileiro, na sua versão apostador/torcedor de futebol, não gostou e não encampou a Timemania. Ainda essa semana parei numa lotérica e fiz um joguinho, coisa meio rara ultimamente. Aliás, o motivo para fazer esse jogo foi justamente esse post. Perguntei à atendente como iam as apostas na Timemania e ela, tão sucinta quanto econômica, respondeu com um só vocábulo: fraquinhas. Gastei alguns reais em troca dessa palavrinha tão explicativa.

Essa fraqueza, como definiu a atendente, fica muito clara na tabela abaixo, que mostra a arrecadação total de outras loterias da CEF com a mesma data do teste 71 da Timemania (base em 5 de julho):

Loteria

Arrecadação total

Participação

Megassena

27,4 Milhões

47,9%

Lotofácil

14,9 Milhões

26,0%

Quina

7,1 Milhões

12,4%

Lotomania

5,2 Milhões

9,1%

Timemania

1,5 Milhão

2,6%

Duplassena

1,5 Milhão

2,6%

Total

57,2 Milhões

100,0%



Para que a Timemania estivesse dentro de sua previsão inicial, a arrecadação total por teste, em média, deveria ser da ordem de 10 milhões de reais, ou seja, ela ficaria entre a Quina e a Lotofácil. O que vemos, entretanto, e o teste 71 é um exemplo bem razoável, é uma irrisória arrecadação de 1,5 milhão de reais, dos quais somente 330.0000 reais irão para as contas dos clubes (o teste 72 teve a mesma arrecadação total e a mesma distribuição para os clubes, portanto). Projetado para o ano, isso dá pouco mais de 17 milhões de reais, um valor insignificante, diante de dívidas cujo total estimado passa um bocado de 1 bilhão de reais e já deve rondar um número entre 1,3 e 1,4  bilhão de reis, pelo menos.

Mais um cálculo, e esse é muito pior, para demonstrar a fraqueza da Timemania, que parece evoluir a caminho da extinção. Nas primeiras 37 semanas de vida, ou primeira metade da Timemania, a arrecadação média por teste foi de 2,75 milhões.

Nas últimas 34 semanas ou segunda metade, quase, a média por teste foi de 2,1 milhões, somente. Uma queda consistente e que, aparentemente, se mantém semana a semana, com números cada vez mais baixos.

Um perigoso indicativo para essa loteria tão fraquinha e para os clubes, que podem sucumbir vítimas dessa fraqueza.

A realidade Dívidas x Arrecadação

A arrecadação total dos 72 testes já realizados soma 176,2 milhões, numa média de 2,45 milhões por teste. Mesmo que os testes 71 e 72 tenham sido anormais – e não foram – e o ano termine com a mesma média de arrecadação por teste, a Timemania continuará muito distante das metas previstas ou, talvez, mais desejadas que de fato estimadas com alguma base. Desse total arrecadado nos 72 testes, foram repassados ao Tesouro em nome dos clubes 38,8 milhões de reais. Nesse ritmo, demoraria 34 anos para que o estoque da dívida fosse quitado, um prazo já além do que seria razoável, mas, desse total devido, nada menos que cerca de 85% são responsabilidade de apenas quinze clubes. E mais da metade da dívida total é responsabilidade de apenas cinco clubes. Isso, é bom que se diga, considerando números divulgados há mais de ano e que não representavam toda a realidade. E não considerando a realidade das dívidas do Vasco da Gama, reveladas pela gestão Dinamite.

Clube

Dívida

(Milhões)

Flamengo

180

Botafogo

160

Fluminense

155

Portuguesa

145

Atlético-MG

112

Grêmio

80

Vasco da Gama

70

Santos

62

São Paulo

43

Cruzeiro

32

Corinthians

30

Bahia

30

Palmeiras

27

Coritiba

20

Figueirense

6


Para esses grandes devedores, o prazo de 34 anos é somente uma miragem, pois no ritmo atual só veriam suas dívidas quitadas entre cinquenta e cem anos, algo de 3 a 6 gerações para pagar uma conta.

Desde que pagassem todos seus débitos correntes. Todos, sem exceção.

Isso, contudo, não ocorre. Somente o Flamengo já deixou de pagar 15 milhões em débitos correntes, mas ele não está sozinho nesse time. Se o texto da lei fosse levado ao pé da letra, os clubes que não honraram seus débitos por 60 dias corridos ou 90 somados seriam sumariamente excluídos do acordo de parcelamento dos débitos. Aqui chegamos ao cerne da questão que anda queimando cabeças mais e menos coroadas na corte do Planalto.

Mudanças na Timemania

Desde que ficou claro o fracasso da loteria os clubes vêm solicitando mudanças na mesma e na mecânica de pagamento que foi acordada inicialmente.

Durante o primeiro ano de vigência da loteria, prevendo que a arrecadação não chegaria ao nível previsto, foi acordado que os clubes pagariam até 50.000 reais mensais, independentemente do valor da parcela que deveria ser paga. A partir do segundo ano, porém, os pagamentos teriam que ser feitos pela íntegra da parcela devida. Com a baixa arrecadação da loteria, os maiores devedores teriam que desembolsar grandes quantias todo mês para o pagamento da dívida, somado à necessidade absoluta de manter os pagamentos correntes em dia.

Explicando: do total arrecadado 22% são destinados aos clubes, dois quais 2% são distribuídos de acordo com a preferência do torcedor, manifestada no quadradinho “Clube do Coração”, no volante. Em dinheiro, isso significa que os clubes receberam o total de 38,8 milhões no decorrer desses 72 testes, dos quais 35,4 milhões foram distribuídos pelos grupos diretamente, em partes iguais, e 3,4 milhões foram distribuídos de acordo com as indicações no “Clube do Coração”.

Peço desculpas, mas não me dei ao trabalho de calcular esses valores do “Clube do Coração”, pois são muito baixos. Voltaremos, entretanto, a falar desse quesito mais adiante. Os outros 20%, que representam 35 milhões de reais, formam um bolo que é dividido em 4 fatias:

a) 65% para clubes do Grupo 1

b) 25% para clubes do Grupo 2

c) 8% para clubes do Grupo 3

d) 2% para clubes do Grupo 4

No Grupo I há 20 clubes e a receita é dividida igualmente entre eles. Vamos, então, a um exemplo prático, tomando por base o poderoso Macaúbas EC, o qual, descubro agora, além de não ir muito bem das pernas no Cartola FC, ainda por cima me faz o favor de dever 120 milhões para a Receita. A única coisa boa nesse número é que ele facilita os cálculos.

Peguemos, então, a dívida de 120 milhões de reais do Macaúbas, que é, logicamente, um clube do Grupo I.

Opa, antes um parênteses.

Como cartola-mor do Macaúbas declaro ser honesto e não ter conta no exterior. Mais que isso: autorizo, magnanimamente, o Ministério Público a procurar tal conta. Mais: como sou magnânimo, também autorizo a polícia a investigar o que quiser. Aprendi a ser assim magnânimo com o magnânimo presidente do senado.

Voltando ao que interessa, a dívida do Macaúbas.

Esse clube, considerando o prazo acordado para pagamento de 20 anos ou 240 meses, teria de desembolsar 500.000 reais mensais, que, em tese, seriam cobertos pela loteria. Entretanto, a média de arrecadação mensal transferida à Receita para redução da dívida foi pouca coisa superior a 60.000 reais mensais. Um valor muito distante dos 500.000 que o Macaúbas teria que pagar. Diante dessa realidade, o acordo dos “50.000″ permitiu aos clubes pagarem esse valor todo mês, ao invés da diferença real, que no caso do meu Macaúbas seria de 440.000 reais. Com isso, a direção do meu clube pagou – ou deveria ter pago – 50.000 e os restantes 390.000 foram engordar a dívida.

Essa moleza, quero dizer, esse acordo tinha prazo de validade meio curto para o gosto cartolístico e já expirou há três meses. Muito antes disso, porém, os dirigentes de vários clubes movimentavam-se incessantemente pelos corredores planaltinos, conversando e chavecando para que o governo ampliasse esse prazo. A partir de um certo momento, as conversas mudaram para pressão aberta por mais prazo e por mudanças significativas não só na loteria, como no próprio acordo de pagamento.

Segundo informação da área de imprensa da CEF, o organismo vem estudando a ampliação da Timemania para dois testes semanais, mas os estudos de viabilidade ainda não estão concluídos. Essa, de oficial, é a única mudança reconhecida que está sendo estudada.

Todo o resto está na fase de conversação entre clubes, parlamentares amigos e autoridades federais, igualmente amigas. Aliás, autoridades amigas do futebol abundam no governo e em suas empresas.

Os pedidos são muitos e variados, indo desde a ampliação do prazo dos 50.000, passando pelo aumento do valor para 70.000 (o que fará uma “enorme” diferença) até a criação de um novo REFIS para incluir as dívidas novas. Sem falar no prato forte dos pedidos: abertura de um novo acordo para inclusão das novas dívidas – que não poderiam existir – e das parcelas atrasadas – que também não poderiam existir.

Sabe-se que muitos clubes não vêm cumprindo suas obrigações com esse acordo, mas não há uma relação deles. Não importa, não é importante conhecer meia dúzia ou mais de nomes coroados, fora os que não tem coroa. A grande questão é que o acordo não está sendo cumprido.

A esperança

Mas, porém, entretanto, todavia, contudo… 2014 aponta no horizonte.

2014 aponta no horizonte.

Dá para acreditar que o governo (é bom não esquecermos que o governo somos nós, sempre, assim como o parlamento) irá penalizar de morte algum clube? Especialmente algum ou alguns grandes clubes?

Sem chance.

Portanto, leitores deste Olhar Crônico Esportivo, em breve nas manchetes:

Timemania II – Primeira parte do Recomeço



Adendo: Clube do Coração e o futuro

Nesse segundo ano de vida a Timemania distribui, como dito acima, 2% do total arrecadado de acordo com a indicação feita pelo apostador no Clube do Coração, e os outros 20% são distribuidos de forma igualitária dentro de cada grupo de clubes.

A partir de 2010, entretanto, isso vai mudar.

O índice apontado no Clube do Coração no decorrer desse ano de 2009 ditará a distribuição da verba arrecadada.

Isso, sem dúvida, será muito benéfico para os clubes com grandes torcidas. Será ainda mais benéfico para os clubes cujos torcedores forem motivados a apostar, apontando, é claro, seu time do coração.

Apesar disso, não se vê nenhuma preocupação nos clubes com esse ponto. Há uma ou outra iniciativa, mas sempre coisa tímida.

Pelo visto é muito mais interessante pagar viagens de cartolas para Brasília do que investir no incentivo aos torcedores para apostarem.

Por exemplo: jogadores recebem por direitos de imagem. Então, por que não colocá-los para fazer chamadas em anúncios e entrevistas, além do site do clube, convocando e estimulando os torcedores a apostarem e marcarem o seu clube do coração?

Dá trabalho, né?


Enfim, fica o alerta.

Timemania 2 – Começar de novo

qui, 12/02/09
por Emerson Gonçalves |
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Senhoras e senhores ouvintes e leitores, começa agora mais um exclusivo post do Olhar Crônico Esportivo, transmitido pela Rádio Camanducaia, falando para a cidade e cochichando para o interior. Abrindo o programa, vamos ouvir uma música de Ivan Lins e Vitor Martins, na voz da Simone, a moça que joga na seleção brasileira de basquete.

Como? Ah, não joga mais?

Essa música é dedicada com carinho e afeto sincero pelos ouvintes Marcio, Mauricio, Roberto, entre outros, para o ouvinte Orlando Silva, o grande cantor que encantou o Brasil com sua voz aveludada.

Ah, não?

Ah, ele é ministro agora e dos esportes?

Desculpem nossa falha, segue a música.


“Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena…”


Apesar dos campeonatos estaduais, muitos dirigentes estão com as atenções voltadas mais para Brasília do que para os gramados do Maracanã, Engenhão, Mineirão, Canindé, Morumbi, Beira-Rio e Olímpico, principalmente. Isto porque na capital federal desenrola-se um jogo mais importante que os títulos que estão sendo disputados nos campos nesse começo de temporada: a criação da Timemania 2, ou, simplesmente, a revisão da Timemania.


Problemas na Timemania 1


O que é o famoso acordo dos clubes com o governo?

Basicamente, essas instituições reconheceram os valores de suas dívidas com o Fisco (Receita, INSS e alguns outros tributos federais), e ganharam o benefício de pagá-las em até 240 meses, usando para isto a arrecadação da loteria, que foi criada com essa finalidade única, a bem dizer. Para isso, 22% do total arrecadado é destinado aos clubes. Esse dinheiro não passa pelo caixa de nenhum deles, enquanto a dívida persistir, vai todo direto dos cofres da Caixa para os cofres do Tesouro Nacional. Caso essa arrecadação, depois de dividida entre os clubes, não atinja o valor da parcela de 1/240 da dívida, a mesma deverá ser complementada pelo clube.

Já era esperado que a loteria não apresentaria bom desempenho em seu primeiro ano, algo bastante natural para um produto novo. Portanto, para que os clubes não fossem penalizados de imediato, fez parte do acordo o pagamento de uma cota mensal de 50.000 reais para cada clube, independentemente do valor real da parcela que deveria ser pago. Claro que, ao mesmo tempo e para manter o acordo individual válido, cada clube precisa pagar de forma integral e sem atrasos suas contribuições normais ao fisco, pois quem não o fizer será excluído do acordo.

O trato funcionou muito bem nesse primeiro ano. Aparentemente, os clubes não só pagaram os cinquenta mil mensais, com também vêm pagando corretamente suas contribuições regulares, esse sim, o maior e mais importante objetivo do acordo (um olhar atento e desapaixonado ao acordo, mostra que ele, na opinião deste blogueiro, é extremamente benéfico à Receita Federal). Essa fase tranquila, entretanto, tem data certa para terminar: março, ou seja, o mês que já está logo aí, na boca da folhinha pendurada na parede.

Em abril, cada qual terá de pagar sua parcela integral.

Vamos aos números dos valores devidos por cada clube (sujeitos a revisões):


Clube devedor Dívida total – milhões Parcela mensal
Flamengo 180 750.000
Botafogo 160 667.000
Fluminense 150 625.000
Portuguesa 145 604.000
Atlético Mineiro 110 458.000
Internacional 104 433.000
Grêmio 80 333.000
Vasco da Gama 70 291.000
Santos 60 250.000
São Paulo 45 187.000
Cruzeiro 35 145.000
Corinthians 30 125.000
Bahia 30 125.000
Palmeiras 25 104.000
Coritiba 20 83.000
Figueirense 7 29.000


Na verdade, nem tudo funcionou tão bem, o que de fato seria verdadeiro se a loteria estivesse arrecadando dentro das previsões dos técnicos da CEF – 500 milhões de reais por ano já no primeiro, dos quais 110 milhões – 22% – estariam entrando diretamente nos cofres do Tesouro, reduzindo mês a mês as dívidas dos clubes. Isso, entretanto, não só não aconteceu como ficou longe, muito longe, a léguas e léguas de distância de acontecer. O valor total arrecadado em 2008 foi de irrisórios 113 milhões de reais, praticamente, e por coincidência, o mesmo valor que, esperava-se, seria abatido das dívidas.

Ora, o panorama 2009 da Timemania é sombrio, ou mesmo tenebroso, pois a perspectiva imediata é que a arrecadação continue nessa ordem de grandeza ou, seria melhor dizer, de miudeza. Os números brutais do desemprego e a ameaça de agravamento da crise econômica em nada contribuem para uma expectativa mais otimista.


Para termos uma ideia mais clara da situação, vamos imaginar que a Timemania aumente sua arrecadação e pule de 113 para 250 milhões de reais, a metade do que a Caixa imaginava, porém, mais que o dobro do que arrecadou em 2008. Como a parte destinada aos clubes é de 22% da receita, isso significaria um aporte de 55 milhões de reais para os 79 clubes inscritos e mais o Corinthians, que não pôde cumprir o prazo de inscrição devido à mudança de Estatuto, mas tão logo haja uma brecha deverá entrar oficialmente, pelo que fui informado sem prejuízo correspondente a esse período.

A partir de 2010, a distribuição dessa receita será feita de acordo com a participação de cada torcida no volume de apostas. Portanto, quando o torcedor marca o seu “clube do coração” no volante, ele está marcando, também, que uma parcela daquela aposta é destinada ao seu clube. Para facilitar, façamos de conta que essa distribuição percentual já vale para 2009 e seus fantásticos 55 milhões.

A coluna % da tabela abaixo representa o percentual a que o clube teria direito sobre o valor anual distribuído pela loteria. Esse percentual é o referente ao teste número 50 da loteria e serve apenas como exemplo. Os percentuais acumulados dos 50 testes apresentam valores ligeiramente diferentes. Usar esses números foi apenas uma opção de minha parte por um número mais recente, que fotografe melhor esse momento.

O “Total ano” é o valor acumulado no período e “Mês“, naturalmente, indica o total que seria abatido da dívida a pagar do clube.

Total mês” é quanto o clube deveria pagar, ou seja, o valor total da dívida dividido por 240 meses.

Finalizando, a diferença entre o valor abatido mês a mês pela loteria, em média, e o valor que deveria ser pago.

Vejam como ficaria o quadro:


Clube devedor % Total ano Mês Total mês Diferença
Flamengo 7,5 4,125 344 750.000 - 406
Botafogo 2,9 1,595 133 667.000 - 534
Fluminense 2,6 1,430 119 625.000 - 506
Portuguesa 0,8 0,440 37 604.000 - 567
Atlético Mineiro 2,5 1,375 115 458.000 - 343
Internacional 3,4 1,870 156 433.000 - 277
Grêmio 4,0 2,200 183 333.000 - 150
Vasco da Gama 3,4 1,870 156 291.000 - 135
Santos 3,8 2,090 174 250.000 - 76
São Paulo 4,5 2,475 206 187.000 + 19
Cruzeiro 3,0 1,650 137 145.000 - 8
Corinthians 6,0 3,300 275 125.000 + 150
Bahia 2,3 1,265 105 125.000 - 20
Palmeiras 4,6 2,530 211 104.000 + 107
Coritiba 1,2 0,660 55 83.000 - 28
Figueirense 0,8 0,440 37 29.000 + 8


Se mantida a classificação do teste número 50 da Timemania, apenas como exemplo, recordo novamente, o Flamengo teria que desembolsar mais de 400 mil para acertar sua conta, enquanto Botafogo, Fluminense e Portuguesa teriam que tirar do bolso muito mais de 500 mil cada um.

Todo santo mês.

Apenas Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Figuirense teriam valores a receber ou a abater da dívida, antecipando seu prazo de pagamento.

Esses, portanto, são os números do drama que vem tirando o sono e causando dores de cabeça à prova de analgésicos para os dirigentes de muitos grandes clubes. O pior dessas continhas é que fui generoso e otimista e já chutei 250 milhões de receita contra os 113 desse ano. Alguém acredita que chega lá?

Pois é.


Uma nova Timemania


A questão que se coloca é: como salvar a loteria?

Para isso, é necessário que aumente o número e o valor das apostas.

A CEF está pensando em fazer dois sorteios por semana, e, além disso, aumentar o preço da Mega Sena para dois reais, empatando com a TM.

Só isso, entretanto, não resolverá o problema.

Um ponto importante e frustrante: a TM não premia o apostador. Seria necessário aumentar as chances de ganhar, a partir dos dois reais da própria aposta, até chegar às boladas. Grandes ganhadores aumentam a vontade de jogar das pessoas, assim como pequenos ganhadores em grande quantidade aumentam essa vontade ainda mais. Esse, por sinal, é o segredo do sucesso da Lotofacil: grande quantidade de apostas premiadas com dois, quatro ou dez reais. Nada resolve, é claro, mas toda vez dá aquele frio na espinha e na barriga e o inevitável “Ah… Passou raspando!” E o apostador aposta uma vez mais e outra e outra…

Um detalhe importante: as máquinas das lotericas deveriam ser programadas para fazer as apostas “surpresinha” sem mudar o “time do coração”. Isso já estimularia um aumento no valor médio da aposta.

Outro problema: falhou a comunicação da CEF com os apostadores. Pelé é mais que um gênio, é mais que um mito, porém mesmo com tudo isso não atraiu o apostador. Minha opinião como publicitário de origem e profissional de marketing: melhor faria a Caixa com uma campanha nacional para a Timemania, mas com veiculações e produções feitas mercado a mercado, usando os próprios jogadores dos times. A comunicação seria muito maior do que atualmente.

Além disso, como é do interesse dos clubes, estes poderiam ceder seus jogadores mais queridos pelos torcedores, creio que sem custos para a CEF, apenas fazendo valer os contratos “inúteis” de direitos de imagem que todos fazem com todos os jogadores e que nunca são usados.

Fica aqui a sugestão deste Olhar Crônico Esportivo. Consultoria marqueteira gratuita. Se tem valor ou não é outra história.

É hora de começar de novo a Timemania, pois os clubes contam com ela e, acreditem, vai valer a pena.




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