Perfil do torcedor pernambucano

qua, 02/09/09
por Emerson Gonçalves |

Recebi esses dias uma pesquisa extremamente interessante, feita pelo Instituto Mauricio de Nassau, de Recife (e aproveito para agradecer a gentileza da Kelli Jahn, gerente de marketing do Sport, que mandou-me alguns dados preliminares, graças aos quais tomei conhecimento do trabalho).


A pesquisa ouviu 3.363 pessoas, residentes em diferentes municípios do estado de Pernambuco, com idade igual ou superior a 16 anos, entre os dias 11 e 14 de agosto. O trabalho tem um índice de confiabilidade de 95% e sua margem de erro é de 2,3 pontos percentuais. Na minha opinião, uma amostra excelente para o universo considerado – a população pernambucana. Lembrando, para comprovar essa afirmação, que pesquisas nacionais são feitas com número de entrevistas entre sete e dez mil, sem problema algum com os resultados.

Curiosamente, 52,5% dos entrevistados são do sexo feminino. Novamente, este é um número em consonância com os dados do IBGE.

Os entrevistados foram de cinco diferentes faixas etárias, a saber:

16 a 24 anos

23,6%

25 a 34 anos

25,5%

35 a 44 anos

19,6%

45 a 59 anos

18,1%

60 anos ou mais

13,2%

Pulando para o que de fato importa, vamos à preferência do pernambucano por time:

Time para o qual torce

Índice de preferência

Sport

26,4%

Santa Cruz

15,7%

Náutico

8,0%

Flamengo

6,8%

Corinthians

4,8%

Palmeiras

3,8%

São Paulo

3,7%

Vasco da Gama

1,6%

Bode do Araripe

0,6%

Central

0,6%

Santos

0,5%

Botafogo

0,4%

Fluminense

0,3%

Grêmio

0,3%

Outros

3,5%

Nenhum

18,9%

Não soube/Não respondeu

3,9%

A metade dos entrevistados – 50,1% – declarou torcer por um dos três grandes times do estado: Sport, Santa Cruz e Náutico. Quase um quinto declarou não torcer por nenhum time – 18,9% – e este é um índice menor que o observado em outras regiões brasileiras. E outra quinta parte – 22,2% – declarou torcer por times de outros estados, com destaque para Flamengo, Corinthians, Palmeiras e São Paulo. Esse número não chegaria a ser preocupante, não fosse por um detalhe: na faixa de 16 a 24 anos de idade, esse percentual pula para 29%.

A participação de torcedores de times de outros estados é bem maior fora da Grande Recife. Na região do São Francisco e do Sertão, esses percentuais são altíssimos: 75% e 61%, respectivamente. Aqui não basta jogar a culpa na “mídia do sudeste”, na televisão, no sol, na chuva… Uma realidade como essa, muito similar, por sinal, à encontrada no Paraná, requer trabalho e criatividade dos times grandes do estado para fazer frente aos de outros estados. Tarefa difícil, sem a menor dúvida, ainda mais que esses percentuais parecem refletir uma situação muito consolidada, mas ela não pode ser ignorada.

Esses dados como um todo mostram a necessidade dos dirigentes dos grandes times de Pernambuco pensarem e planejarem cuidadosamente o futuro. Não se trata apenas de um crescer mais que o outro, mas sim do futebol pernambucano como um todo voltar a crescer, garantindo aos clubes sua principal base de apoio: a população do próprio estado (ficou um pouco repetitivo, mas é isso aí).

Preocupante, também, mas nesse caso para Náutico e Santa Cruz, é a proporção de torcedores do Sport na faixa etária mais jovem: nada menos que 35%, contra 13% do Santa Cruz e 8% do Náutico. A razão fica clara ao olharmos para o passado recente dos times pernambucanos, quando o Sport foi mais consistente que seus rivais dentro dos gramados. Com certeza, essa mesma proporção ou ainda maior, deve ser observada na garotada “sub 16” e o mesmo deve ocorrer com a parcela que torce para times de outros estados.

Em todo o mundo e não somente no Brasil, há uma clara tendência a uma concentração de poucos grandes clubes. As razões para isso são muitas e todas passam pelo caráter de diversão e espetáculo de massa que tomou o futebol. O Brasil teve um desenvolvimento do futebol que levou à criação de grandes clubes em muitas cidades. Em parte pelas distâncias imensas e as dificuldades logísticas existentes até quinze, vinte anos. Em parte por um modelo de futebol que privilegiou as competições locais em detrimento da nacional – até por conta das distâncias, mas também em função da absurda concentração de riqueza em poucos pontos do país, o que gerou grandes desequilíbrios regionais. Esses pontos somam-se aos novos trazidos pela massificação e globalização. Em algum momento futuro, atrevo-me a dizer e não me levem a mal, haverá necessidade da existência de vários clubes vir a ser discutida. E isso não significa somente Recife.

A esse respeito, por sinal, o ex-presidente do Atlético Paranaense, Mario Celso Petraglia, chegou a pregar a necessidade e conveniência de unificação dos times de Curitiba. Foi massacrado, muito mais por ter falado uma verdade fora do tempo certo. Esse assunto voltará à baila, acreditem, e não só em Curitiba, assim como não somente em Recife. (Mais recentemente, MCP defendeu a conveniência de uma arena única para a cidade de Curitiba.)

A vida não é fácil, mas alguém disse que seria?


Complementos: tabelas com distribuição por faixas etárias, renda, escolaridade e regiões.

Lamento pela qualidade, mas, infelizmente, não domino as técnicas de web designing.



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade