Perfil do torcedor pernambucano
Recebi esses dias uma pesquisa extremamente interessante, feita pelo Instituto Mauricio de Nassau, de Recife (e aproveito para agradecer a gentileza da Kelli Jahn, gerente de marketing do Sport, que mandou-me alguns dados preliminares, graças aos quais tomei conhecimento do trabalho).
A pesquisa ouviu 3.363 pessoas, residentes em diferentes municípios do estado de Pernambuco, com idade igual ou superior a 16 anos, entre os dias 11 e 14 de agosto. O trabalho tem um índice de confiabilidade de 95% e sua margem de erro é de 2,3 pontos percentuais. Na minha opinião, uma amostra excelente para o universo considerado – a população pernambucana. Lembrando, para comprovar essa afirmação, que pesquisas nacionais são feitas com número de entrevistas entre sete e dez mil, sem problema algum com os resultados.
Curiosamente, 52,5% dos entrevistados são do sexo feminino. Novamente, este é um número em consonância com os dados do IBGE.
Os entrevistados foram de cinco diferentes faixas etárias, a saber:
16 a 24 anos |
23,6% |
25 a 34 anos |
25,5% |
35 a 44 anos |
19,6% |
45 a 59 anos |
18,1% |
60 anos ou mais |
13,2% |
Pulando para o que de fato importa, vamos à preferência do pernambucano por time:
Time para o qual torce |
Índice de preferência |
Sport |
26,4% |
Santa Cruz |
15,7% |
Náutico |
8,0% |
Flamengo |
6,8% |
Corinthians |
4,8% |
Palmeiras |
3,8% |
São Paulo |
3,7% |
Vasco da Gama |
1,6% |
Bode do Araripe |
0,6% |
Central |
0,6% |
Santos |
0,5% |
Botafogo |
0,4% |
Fluminense |
0,3% |
Grêmio |
0,3% |
Outros |
3,5% |
Nenhum |
18,9% |
Não soube/Não respondeu |
3,9% |
A metade dos entrevistados – 50,1% – declarou torcer por um dos três grandes times do estado: Sport, Santa Cruz e Náutico. Quase um quinto declarou não torcer por nenhum time – 18,9% – e este é um índice menor que o observado em outras regiões brasileiras. E outra quinta parte – 22,2% – declarou torcer por times de outros estados, com destaque para Flamengo, Corinthians, Palmeiras e São Paulo. Esse número não chegaria a ser preocupante, não fosse por um detalhe: na faixa de 16 a 24 anos de idade, esse percentual pula para 29%.
A participação de torcedores de times de outros estados é bem maior fora da Grande Recife. Na região do São Francisco e do Sertão, esses percentuais são altíssimos: 75% e 61%, respectivamente. Aqui não basta jogar a culpa na “mídia do sudeste”, na televisão, no sol, na chuva… Uma realidade como essa, muito similar, por sinal, à encontrada no Paraná, requer trabalho e criatividade dos times grandes do estado para fazer frente aos de outros estados. Tarefa difícil, sem a menor dúvida, ainda mais que esses percentuais parecem refletir uma situação muito consolidada, mas ela não pode ser ignorada.
Esses dados como um todo mostram a necessidade dos dirigentes dos grandes times de Pernambuco pensarem e planejarem cuidadosamente o futuro. Não se trata apenas de um crescer mais que o outro, mas sim do futebol pernambucano como um todo voltar a crescer, garantindo aos clubes sua principal base de apoio: a população do próprio estado (ficou um pouco repetitivo, mas é isso aí).
Preocupante, também, mas nesse caso para Náutico e Santa Cruz, é a proporção de torcedores do Sport na faixa etária mais jovem: nada menos que 35%, contra 13% do Santa Cruz e 8% do Náutico. A razão fica clara ao olharmos para o passado recente dos times pernambucanos, quando o Sport foi mais consistente que seus rivais dentro dos gramados. Com certeza, essa mesma proporção ou ainda maior, deve ser observada na garotada “sub 16” e o mesmo deve ocorrer com a parcela que torce para times de outros estados.
Em todo o mundo e não somente no Brasil, há uma clara tendência a uma concentração de poucos grandes clubes. As razões para isso são muitas e todas passam pelo caráter de diversão e espetáculo de massa que tomou o futebol. O Brasil teve um desenvolvimento do futebol que levou à criação de grandes clubes em muitas cidades. Em parte pelas distâncias imensas e as dificuldades logísticas existentes até quinze, vinte anos. Em parte por um modelo de futebol que privilegiou as competições locais em detrimento da nacional – até por conta das distâncias, mas também em função da absurda concentração de riqueza em poucos pontos do país, o que gerou grandes desequilíbrios regionais. Esses pontos somam-se aos novos trazidos pela massificação e globalização. Em algum momento futuro, atrevo-me a dizer e não me levem a mal, haverá necessidade da existência de vários clubes vir a ser discutida. E isso não significa somente Recife.
A esse respeito, por sinal, o ex-presidente do Atlético Paranaense, Mario Celso Petraglia, chegou a pregar a necessidade e conveniência de unificação dos times de Curitiba. Foi massacrado, muito mais por ter falado uma verdade fora do tempo certo. Esse assunto voltará à baila, acreditem, e não só em Curitiba, assim como não somente em Recife. (Mais recentemente, MCP defendeu a conveniência de uma arena única para a cidade de Curitiba.)
A vida não é fácil, mas alguém disse que seria?
Complementos: tabelas com distribuição por faixas etárias, renda, escolaridade e regiões.
Lamento pela qualidade, mas, infelizmente, não domino as técnicas de web designing.