Um ano interessante

qui, 02/01/14
por Emerson Gonçalves |

 

“Que você e seus filhos vivam em tempos interessantes” – o que parece um mero desejo educado era, na verdade, quase uma praga, pois um tempo interessante na visão da velha China era um tempo de rupturas, de problemas, de crises. No mundo moderno a quebra da rotina tornou-se meta de quem se pretende descolado, assim como interessante na cultura ocidental tem um sentido geralmente positivo. O título desse post, porém, referindo-se a 2014, prevê que ele será um ano interessante, mas no velho sentido chinês.

 

Francamente, o ano não poderia começar pior. Os atrasos nos estádios para a Copa, os atrasos nas obras complementares e até mesmo a inexistência de obras prometidas não chegam a comprometer e muito menos surpreender, da mesma forma que o estouro em todos os orçamentos ligados ao megaevento.

Se tudo isso não acarreta um peso negativo para esse 2 de janeiro, primeiro dia útil do ano (meio útil, só), de onde vem esse peso?

Simples, prezado e paciente leitor que conseguiu chegar até aqui: de uma bela coleção de abacaxis, começando pela ameaça da entrada da justiça dita comum na cena do futebol, associada ao zum-zum-zum que já se ouve em corredores e salas presidenciais de um “novo” campeonato brasileiro. Talvez, quem sabe, com 24 clubes. Ninguém cai, quatro sobem, como é de direito.

A coisa vai mais longe e fica muito pior do que isso: mentes saudosas dos tempos bagunçados das sempre diferentes fórmulas de mata-mata já sonham com o regresso, digo, retrocesso àqueles tempos.

Tétrico.

No bojo dessas vontades reside o mesmo de sempre: a vontade de premiar o oba-oba, a vontade de jogar no lixo planejamento e trabalho sério em troca de aventuras rocambolescas que, muitas das vezes, resultam em títulos – que entram para a história, rendem lembranças fantásticas, provocam rendas fabulosas, geram infinitas conversas e… Conduzem os clubes para o abismo provocado por dívidas inconsequentes e enlouquecidas.

A volta do mata-mata é, também, a volta de um sistema cruel para os clubes pequenos, que perderão, já no começo da temporada, a possibilidade de ganhar dinheiro com seus patrocínios. E se antes clubes menores chegavam às finais e até a títulos, isso era baseado na feliz combinação de um elenco bem montado e bem encaixado por um professor esperto. Hoje, porém, sem o escravizante passe, isso é mais difícil. Enterra de uma vez por todas qualquer proposta de venda de carnês para a temporada, de começo certo e final incerto.

Dos vinte ou vinte e quatro clubes da primeira divisão, dois terços deles ou perto disso, ficarão sem ter o que fazer na reta final da principal competição do nosso futebol. Os classificados “pouparão” seus times para os jogos decisivos, como era hábito e como é, ainda, mas um pouco menos.

Estaremos, novamente, na contramão da história, e tudo por conta de duas falhas grotescas em escalações de jogadores sem condições de jogo e a ação correta, legítima e, claro, legal, do STJD a respeito, indo contra a gritaria geral que queria, custasse o que custasse, uma autêntica virada de mesa e o desrespeito puro e simples às regras que valeram por 38 rodadas para 18 times.

Ah, Brasil, vá alguém tentar entender…

Praticamente, como vocês viram, nem falei em Copa do Mundo e nem preciso. Voltemos aos clubes e à confederação.

Ainda no primeiro semestre haverá eleição na CBF. Curiosamente, a disputa pelo controle da entidade maior do nosso futebol está meio morna, meio quieta. Isso, porém, é como casa com crianças pequenas: o silêncio é preocupante, pois os pequenos bagunceiros certamente estarão muito entretidos aprontando alguma arte.

Muitos clubes também terão eleições – nada menos que 10 dos 12 maiores – e algumas poderão ter resultados que provocarão mudanças significativas na conduta, como é o caso do São Paulo, o primeiro a decidir a troca de comando, em abril. Em julho será o Vasco e os outros oito só terão eleições a partir de outubro: Grêmio, Cruzeiro, Internacional, Palmeiras, Botafogo, Santos, Atlético Mineiro e Corinthians, com os dois últimos em dezembro, segundo levantamento feito pela ESPN.

 

O imbróglio 2014 não para por aqui, pelo contrário.

O Bom Senso FC articula uma greve para o início dos estaduais. Se vai acontecer não é certo, ainda, mas é uma possibilidade que não pode ser ignorada. Os atletas querem mudanças significativas, principalmente no calendário e nas relações clube/jogador, com garantias de pagamento dos salários, inclusive com a adoção de um fair play financeiro e trabalhista.

Numa manobra inteligente e atrevida, os próprios clubes com o apoio da CBF puxaram para si próprios essa bandeira do fair play financeiro e trabalhista. Tal e qual, mas com propostas mais amplas. Um problema, porém, para os clubes, foi a aprovação do Proforte e sua transformação em lei por meio de Medida Provisória da Presidência da República, o que já era dado como favas contadas, a começar pelo Ministro do Esporte – que será candidato em outubro.

Se o perdão do Estado não acontecer, e pode até ser o caso desse pacote de perdão só valer em 2015, por conta de alguns impeditivos legais (creio que alguns impeditivos legais referentes a taxações podem ser contornados, daí o “pode ser”), a situação dos grandes devedores e de alguns clubes que vêm apostando pesado na aprovação desse projeto ficará ainda pior do que já é hoje. Sintomaticamente, os presidentes de clubes não usam e não gostam que se use a palavra “perdão” para o cerne desse projeto. Podem não gostar, pode não ter nome de perdão, mas a prática, essa incorrigível, é bem clara: será, sim, um perdão de dívidas.

Perdão para loucuras…

O jornal O Estado de S.Paulo de hoje traz matéria com o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, e esse trecho da matéria já diz muito:

Na Europa, as pessoas ficam perplexas quando descobrem os salários que alguns pagam. Se continuarmos assim, muitos (clubes) morrerão…

A coluna Painel FC, da Folha de S.Paulo, traz uma declaração do mesmo Juvenal Juvêncio, em linha com a declaração acima:

“Hoje, os jogadores voltam da Europa para ganhar mais no Brasil”

Curiosamente, ou não, esse mesmo São Paulo repatriou Lucio, encostado na Juventus por deficiência técnica, por comentados e nunca desmentidos quinhentos mil reais mensais, fora benefícios diversos, assegurados por excelente contrato de dois anos de duração (excelente para o jogador, dada  a sua idade e condição física). Casa de ferreiro, espeto de pau. A contratação cara revelou-se, como era previsível por quem viu os dois jogos que o zagueiro fez pela Vecchia Signora, um total equívoco, culminando com o afastamento do atleta do elenco. Recebendo o salário, claro, como é de lei e como é de direito.

 

Muitos leitores já solicitaram uma avant première dos resultados financeiros de 2013. O melhor a fazer, nesse caso, é esperar. Esperar a publicação ou a divulgação dos balanços dos clubes, cuja data final para publicação é 30 de abril.

Apesar disso, balancetes publicados e comentários ouvidos de conselheiros e mesmo diretores de vários clubes, dão conta de uma situação extremamente preocupante em muitos deles. Porque as dívidas cresceram, porque contratações insensatas foram feitas, seja pelos jogadores envolvidos, seja pelos custos salariais e de transferência, seja pelo conjunto dos dois casos.

Essa súbita movimentação dos próprios clubes buscando um fair play financeiro não é gratuita e muito menos fruto de um ataque de bom senso – ops… eu disse “de” bom senso e não “do” Bom Senso, embora esse último ponto também seja verdadeiro e tenha lá seu peso – e sim fruto da situação mostrada pelos caixas dos grandes clubes.

Reduzir custos, enxugar salários, cortar despesas está na ordem do dia. Raul Corrêa da Silva, diretor-financeiro do Corinthians, disse alguns dias atrás que a folha corintiana terá que ser reduzida sensivelmente em 2014. Essa é uma declaração de peso, pois parte do clube com maior receita do país. E combina com o que disse o presidente do clube com a segunda maior receita, o São Paulo, na matéria já citada mais acima: o clube não fará loucuras e não entrará na “corrida maluca de salários”.

Bem-vindos a 2014.

Bem-vindo, 2014.

Que sejamos todos felizes dentro do que a realidade desse ano tão interessante nos permitir.

 

Pisada de bola e ser Zé Regrinha

seg, 16/12/13
por Emerson Gonçalves |

 

- Mas “professor”, eu não tive culpa, foi sem querer, eu dei uma pisadinha na bola e ela saiu, eu não tive culpa, pô! Manera aí, “professor”, por favor.

Essa conversa nem deve ser mais ouvida pelos “professores”, que no caso são os árbitros de futebol, embora a situação não seja rara. Aliás, ela é cada dia mais comum (por que será, hein?): o jogador não controla a bola, ela espirra e sai pela linha lateral ou pela linha de meta.

Saindo dos limites definidos pelas linhas do campo, conforme o regulamento, a bola é considerada fora de jogo.

Assim sendo, manda a regra, e S.Sa. a cumpre, que a bola seja recolocada em jogo por arremesso lateral ou por tiro de canto.

Detalhe pequeno, mas significativo: pelo adversário.

Francamente, não acredito que alguém vá querer realmente discutir com o árbitro para não dar o fora de jogo e permitir que a bola fique em poder do “pisador”, não é mesmo?

 

Isso, entretanto, é que ocorre em relação ao julgamento de hoje no STJD. A Portuguesa deu uma pisada de bola, ela saiu, mas ela, a Lusa, não teve culpa, foi sem querer, não houve dolo. Portanto, partindo dessa premissa, não deve o clube ser punido pelo tribunal.

- Ah, aplica uma multa aí, já vai bom demais.

Simples e sem propósito, embora generoso e nobre. Sem querer ser desrespeitoso, mas é um pouco parecido com o que fazem os parlamentares brasileiros em todos os níveis: concedem imensas benesses, bolsas e tudo mais “de bom” sem preocupação alguma com os custos, ou seja, com quem tem que pagar por todas essas benesses. Como diz um amigo, dar esmola com dinheiro alheio é uma beleza.

Absolver a Portuguesa – e por extensão lógica e política o mesmo ocorrerá com o Flamengo – significará tirar dos outros 18 clubes que disputaram o campeonato e cumpriram o regulamento de jogo, o regulamento da competição. Eles pagarão por isso.

- Ah, mas o jogo não teve importância, não decidiu nada e o jogador não influiu no resultado. Bom, aqui há uma premissa absurda e falsa – a de que o jogador não influiu no resultado. Ora, todo e qualquer jogador que entra em campo tem sua parcela de influência no resultado, nem que seja por nada fazer e ficar “escondido” todo o tempo. Outra falsa premissa é a de que o jogo nada valeu. Basta perguntar a um torcedor do Internacional, por exemplo, e ele dirá o oposto: valeu, sim.

Muitos clubes e jogadores foram prejudicados pelo cumprimento da suspensão automática ao longo do campeonato. Justamente por terem cumprido o regulamento. Jogo é jogo, estamos numa competição esportiva e todos os participantes devem obedecer ao mesmo regulamento, o que inclui se submeter às mesmas punições.

Se o regulamento é falho, se a Confederação e o seu tribunal são anacrônicos, ultrapassados, pouco ou nada transparentes e muitas outras coisas, boa parte das quais já objetos de posts críticos nesse OCE, devem ser mudados. Os clubes devem se mexer para isso, mas alguém viu isso? Não. Não há ação nenhuma, apenas alguns discursos de momento, para inglês ver, sendo que o inglês no caso é o torcedor do próprio clube do discursador. Talvez consigam mudar, isso, é claro, se os presidentes dos clubes gastarem menos tempo com a busca incessante por perdão das dívidas, a única coisa capaz de uni-los.

Nesse momento é importante lembrar que o caso de 2010 não é semelhante ao de 2013, como já ficou claro em matérias veiculadas nos últimos dias em alguns veículos, como aqui no portal GloboEsporte, no diário Lance e em outros mais. O jogador Tartá cumpriu a suspensão e o Fluminense esteve o tempo todo dentro da lei.

 

Nada há de errado na denúncia da CBF contra os dois clubes. Errada estaria a Confederação se nada fizesse.

Como nada há de errado no julgamento que será realizado hoje e nada haverá de errado com a aplicação da lei, com a aplicação do regulamento

Fazer isso será exatamente o oposto do famigerado “tapetão” e fazer isso, cumprir o regulamento, será, sim, respeitar os resultados obtidos nos campos por todos os competidores.

 

É exatamente essa a minha opinião e não tenho vergonha ou medo de externa-la, o que, felizmente, sempre fiz no decorrer de minha vida. A propósito, esse episódio e a enxurrada de críticas que recebi nos comentários (muitos deletados por serem chulos de maneira até vergonhosa), em e-mails e em redes sociais, lembrou-me episódio marcante de minha adolescência, no distante 1973. Estudava, então, num colégio estadual no belo e chique bairro do Sumaré, em São Paulo. Ali, no mês de março, criei um mural e abasteci-o com notícias que não saíam nos jornais, proibidas pela censura. Claro que também escrevia algumas coisas e comentários. Curta foi a vida do mural, pois um belo dia o diretor da escola chamou-me e foi claro, paternalmente claro:

- Filho, você pode pensar o que quiser, mas guarde para você. Vivemos tempos difíceis e certas coisas não devem ser publicadas e nem faladas com muita gente.

Nunca segui esse conselho, seja durante a ditadura militar, seja em momentos como o presente, quando a opinião pública expressa e multiplicada como nunca antes na história (opssss) graças à internet e às redes sociais, exercem um peso massacrante sobre quem se atreve a ir contra a corrente. Nunca deixei de falar ou escrever e espero ter força e vontade para nunca deixar de fazê-lo, mesmo que isso signifique, como hoje, receber as pechas de “vendido”, corrupto, capacho e, por último, Zé Regrinha. Por isso mesmo faço questão de assinar esse post em seu final:

Emerson Zé Regrinha Gonçalves

 

Desleixo e desânimo – O pós-Brasileirão 2013

qua, 11/12/13
por Emerson Gonçalves |

 

Todo jogo vale o mesmo da primeira à última rodada ou o desanimador pós-jogo do Brasileiro 2013

A questão não é que A ou B ou C ou D seja rebaixado. A questão é que o campo deve determinar o rebaixamento, ao menos por enquanto (até que um dia “entregas” de jogo e crimes de organizadas levem um clube ao rebaixamento).

Aparentemente, temos duas situações consolidadas e bem claras em relação à última rodada do Brasileiro 2013: Flamengo e Portuguesa usaram jogadores que não tinham condições legais de jogo. Foram punidos, tudo dentro do regulamento, tudo certo, sem maracutaia.

Apesar disso, dois clubes tradicionais, com larga vivência na disputa de campeonatos e copas, erraram feia e grotescamente, escalando e usando quem não poderia sequer aparecer na súmula, quanto mais jogar (resta esperar pelo pronunciamento do “chateado” advogado que representou a Portuguesa, mas como ele já se declarou “chateado”…).

Diante desses fatos não há o que fazer, exceto cumprir o que determina o regulamento: perdas de 3 pontos e mais o que tiver sido conquistado nos jogos com jogadores irregulares.

Quatro pontos a menos para cada time, por coincidência. Coincidência quase idêntica nas campanhas, com vantagem de um empate, um ponto a mais para o Flamengo.

Se não fosse o erro da Portuguesa, o Flamengo seria rebaixado, por conta de um absurdo, espantoso, impensável erro burocrático. Na verdade, não foi salvo pelo erro luso e sim por um empate, um simples e prosaico empate e um ponto ganho, porque tivesse a Lusa os mesmos 49 pontos do Flamengo, com mais um empate em sua campanha, e o rebaixado seria o Flamengo pelo saldo de gols.

E a Portuguesa, que com muito esforço e algum brilho livrou-se do rebaixamento, foi para lá jogada por um brutal e estúpido erro burocrático. E pela falta de um empatezinho, por mais chocho e sem graça que pudesse ter sido.

Considerando todo o quadro, o Flamengo não está livre, ainda, do rebaixamento, dependendo para que isso aconteça que o tribunal dê ganho de causa ao Vasco na alegação do juiz do jogo em Joinville ter estourado o tempo máximo de espera para reiniciar a partida.

Dessa lambança toda escapou o campeão antecipado do certame, o Cruzeiro, que conseguiu pôr em campo um jogador sem contrato num jogo que, sem isso, já rendeu muito pano pra manga. Saiu-se bem do imbróglio o campeão, pelo qual pagará simbólica multa de dez mil reais. Ficam para os botecos da vida o tititi sobre a “entrega” ou não do jogo contra o Vasco, o mesmo do goleiro sem contrato, enquanto a chegada de Marlone à Toca não acontece, como, ao que tudo indica, irá acontecer.

Voltando aos dois times ameaçados: pensando bem, diante de tantas e tamanhas indigências de dois times que ainda flertavam com o rebaixamento, uma decisão salomônica (na minha opinião) seria uma queda dupla, sem troca de posição. Quem foi rebaixado no campo, foi. Quem pisou na bola no tribunal também foi. E que subissem mais dois felizardos da Série B.

Porque, talvez assim, imagino eu, os clubes aprendessem a necessidade de trabalhar com seriedade total do primeiro ao último jogo, fazendo o melhor possível no campo e fora dele. Da primeira à última rodada, sem facilitar, sem “poupar”, sem “entregas”, simplesmente cumprindo a mais sagrada de todas as obrigações de uma equipe esportiva: jogar para ganhar, sempre.

A vida real, entretanto, nos premia com um pós-campeonato de pesadelo, algo que imaginávamos sepultado há muitos anos.

Pelo andar da carruagem e dependendo do rumo que tomarem os acontecimentos, não duvido sequer da ressurreição mágica e apressada do Clube dos 13, na véspera da Copa do Mundo, porque o discurso para isso vive pronto na ponta da língua de todo dirigente, quero dizer, cartola. Como sempre, não no sentido de buscar a evolução e a melhoria do nosso futebol, mas buscando apenas interesses próprios, pequenos, limitados e, acima de tudo, corrigir a incompetência deles próprios, cartolas, à frente de clubes que movimentam dezenas e centenas de milhões de reais e são depositários do amor incondicional de mais de uma centena de milhões de torcedores.

 

Em tempo: essas três situações não caracterizam virada de mesa.

Por quê?

Porque os dois clubes, de acordo com o regulamento, escalaram jogadores sem condições de jogo. E no caso de Joinville o juiz estourou o tempo previsto no regulamento em 13 minutos.

Aguardemos, mas, francamente?

Tudo que eu não quero ser nessa semana é juiz do STJD.

 

 

 

Semana da Copa, decote, sutiã e de mudanças importantes para 2014

sáb, 07/12/13
por Emerson Gonçalves |

 

Pode me processar por propaganda enganosa: apesar do título, nada falarei dos três primeiros temas sugeridos. Ou quase nada…

Na semana em que o sorteio das chaves da Copa do Mundo chamou a atenção, quase ofuscado pelo decote e beleza da apresentadora Fernanda Lima e pelo sutiã da irmã do zagueirão do Bahia em rede nacional dominical, duas mudanças importantes foram aprovadas pela CBF para o Regulamento Geral das Competições (organizadas pela CBF) para 2014: portões fechados para clubes de brigões e cinco jogadores estrangeiros por equipe.

 

Art. 45 – Os clubes poderão incluir até cinco atletas estrangeiros nas suas partidas, dentre os relacionados na súmula.

Essa medida foi solicitada formalmente pelo Grêmio, via Federação Gaúcha, e que também já havia sido solicitada por outros clubes, chega com atraso ao nosso futebol. Vou além: não deveria haver nenhuma barreira de nacionalidade, seja ela formal ou informal, como ocorre com a presença de um treinador estrangeiro na Seleção Brasileira.

Vivemos num mundo marcado pela destruição das distâncias e das dificuldades na comunicação, inclusive interpessoal. A economia é globalizada, embora em parte ainda prejudicada pelas barreiras nacionais diversas. A integração cultural é também um fato, chame-se a ela de globalização ou massificação ou qualquer outro nome. Ganha corpo a tese de que o ser humano é um só, mesmo porque, como pesquisadores descobriram e novos indícios confirmam, viemos todos da mesma África (ora veja, quem diria, ?), temos os mesmos avós e sangue em comum. Para que barreiras? Proteção de cargos de trabalho locais? Não é com restrições que se constrói uma economia saudável e sim com liberdade.

Ao invés de se restringir a presença de atletas estrangeiros, é mais produtivo e eficiente incentivar de fato as categorias de base, também elas sem restrições de nacionalidades (vide Messi, por exemplo).

Em termos práticos e imediatos, filosofias à parte, essa abertura tem tudo para ajudar nossos clubes, inclusive os de menores receitas. O mercado latino-americano é rico em bons jogadores e o diferencial da economia brasileira e do real em relação aos demais países e moedas ajuda bastante nossos clubes. Para isso, porém, é preciso quebrar a rotina e, quem sabe, um certo preconceito em relação a jogadores de outros países, e investir. E mais: a América do Sul não se limita a Argentina e Uruguai, eventualmente Paraguai e Chile. Grêmio e Internacional há anos exploram essas possibilidades, favorecidos pela cultura, história e proximidade geográfica. É hora dos outros clubes aproveitarem essa abertura.

Em tempo e para deixar bem claro: o regulamento permite até 5 jogadores na súmula de uma partida, o que significa que os 5 podem até jogar como titulares. E, claro, fora isso nada impede que o clube tenha mais de 5 estrangeiros contratados.

 

Art. 69B – Nos casos de violência e distúrbios graves, com fundamento no artigo 175, parágrafo 2º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, e artigos 7º e 12º do Código Disciplinar da FIFA, as partidas correspondentes à pena de perda de mando de campo, poderão ser realizadas por determinação do STJD, com portões fechados ao público, portanto sem venda de ingressos, no mesmo estádio em que o clube manda seus jogos.

Sim.

Os clubes têm responsabilidade em relação aos bandos organizados que se dizem seus torcedores e usam seus uniformes, ou melhor, suas cores. Exemplos disso não faltam. As relações são formais, como fornecer ingressos para serem vendidos nas sedes desses grupos, e informais, como a presença em jogos até no exterior, lugares reservados (independentemente das determinações policiais), participações em churrascos nas sedes sociais, em tese exclusivas dos sócios, e por aí vai.

São justamente esses bandos que patrocinam ou organizam ou no mínimo participam maciçamente das piores cenas de violência em todo o país, em todos os estádios. Portanto, nada mais correto, nada mais justo que punir os clubes coniventes. Em São Paulo, por exemplo, o presidente palmeirense, Paulo Nobre, tem sido voz e voto solitário em medidas que visam restringir as ações dos bandos de “organizados”. Se o Palmeiras está sozinho, significa que Corinthians, Santos e São Paulo seguem dando guarida e apoio aos seus próprios bandos.

Que paguem por isso, então.

A perda de receita dos jogos com portões fechados terá que, em algum momento, incutir um pouco de juízo e bom senso nos dirigentes, o que até agora não foi conseguido pela legislação e pelos muitos acordos celebrados para inglês ver.

Resta agora o tribunal fazer sua parte e condenar, como já vem fazendo, mas sem atenuar depois e reduzir as penas drasticamente, como também vem fazendo. Isso só serve para evitar tomadas de posição mais consequentes por parte dos clubes.

Isso dito, que a garota Isabella continue feliz com seu Bahia e que a Fernanda Lima apresente novos eventos no mundo da bola. Elas fizeram essa semana ser mais agradável que o normal.

 

Mudanças por um lado e o mesmo intervencionismo de sempre por outro

qui, 14/11/13
por Emerson Gonçalves |

 

O dia e a noite de ontem mostraram a realidade do futebol brasileiro. E não me refiro à conquista, agora oficial, do título brasileiro desse ano pelo Cruzeiro de Marcelo Oliveira, mais uma prova do quanto é necessário um treinador ter respaldo e respeito para conseguir trabalhar.

 

Mudanças em curso

Novas leis, novos projetos, alguns ruins e desnecessários, como o Proforte, o novo perdão (sim, eu sei que tecnicamente não é perdão, mas… só que é) das dívidas de clubes incapazes de cumprir suas obrigações. O mesmo parlamento que arquiteta isso, bem como mais uma mudança na já velha Timemania, também proibiu a reeleição infinita de dirigentes de clubes com algum favorecimento fiscal. Ou seja, todos eles. Um avanço, ainda que pequeno. Há mais algumas mudanças, já detalhadas em posts anteriores desse OCE, mostrando que nem tudo que emana do Congresso Nacional é tão nefasto.

O ponto alto da rodada de ontem foi visto em Itu, onde essa República começou de fato a nascer, em 1873, na “Convenção de Itu”. Os 22 profissionais em campo de São Paulo e Flamengo fizeram um protesto que, parece-me, foi inédito em todo o mundo. Veja o vídeo pelo link abaixo, ele “fala” muito melhor através das imagens e é uma homenagem ao melhor do espírito republicano:

https://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2013/11/em-protesto-jogadores-de-sao-paulo-e-fla-retardam-partida-em-um-minuto.html

Brilhante, inusitado, criativo e único!

Pelo que acompanhamos, a decisão de fazer a manifestação dessa forma, evitando o cartão amarelo coletivo determinado pela CBF de forma autoritária e totalmente desprovida de… bom senso, foi tomada ali, no calor da hora, momentos antes do apito inicial da partida, com os corpos aquecidos, os corações a “mil”, a adrenalina circulando pelo organismo. Também por isso, faço questão de parabenizar aos protagonistas dessa manifestação, liderados por Rogério Ceni e Leonardo Moura, capitães dos dois times. E, como disseram os profissionais do Sportv na transmissão, a torcida a princípio não entendeu e não se manifestou. Mas tão logo Rogério Ceni sinalizou que tinha acabado o protesto e pôs a bola em jogo, com os jogadores correndo para tomar posições, marcar e tocar a pelota, o público entendeu e aplaudiu o belo drible aplicado à determinação da Confederação.

Estou com inveja de quem compareceu ao Novelli Junior, em Itu, ontem, pois presenciou um evento histórico.

O Bom Senso FC exige um mínimo de respeito e atenção por parte dos dirigentes da confederação, federações e também dos clubes. Muito mais importante que isso, exige mudanças, algumas das quais, sem a menor dúvida, contribuirão muito para melhorar nosso futebol.

Os atletas estão dando um exemplo a toda a sociedade brasileira. Agem e tomam suas decisões de forma democrática, manifestam-se com impacto e sem destruir coisa alguma, exceto a pasmaceira cômoda de dirigentes. São consequentes e têm planejamento. Diria meu avô, se vivo fosse, que eles serão um osso duro de roer para os atuais detentores do poder.

Amém.

 

Mais do mesmo de sempre

No Rio de Janeiro o dia foi rico em exemplos de um dos porquês de nosso atraso em todas as áreas: o Estado intervindo onde não é chamado e muito menos necessário.

Refiro-me às ações tomadas pelo PROCON contra o Clube de Regatas do Flamengo, nas pessoas de seus dirigentes eleitos, no que pode ser considerado um caso claro de abuso de autoridade e de intervencionismo estatal, com ações onde o viés político oportunista aflora despudoradamente.

É de nossa tradição assistir à intervenção do Estado na economia e nas nossas vidas, indo muito além das funções para as quais serve ou deveria servir. Era assim na Colônia, assim foi no Império e assim é na República. Esse vício, ao lado de outros, até hoje impede que o Brasil seja um país capitalista. Capitalista de fato e não de gogó. Onde tenhamos não só o pior do sistema, mas principalmente onde tenhamos o melhor que esse sistema econômico, o mais eficiente criado pelo Homo sapiens até a presente data, tem a oferecer.

O clube aumentou o preço dos ingressos para um evento de sua responsabilidade. Um evento de lazer, de entretenimento, uma disputa esportiva. Que interessa de forma direta a alguns milhões de pessoas no seu entorno, mas que só poderá atender a 60.000.

Interessa, mas não é vital à sobrevivência de ninguém. Não se trata de cartéis (sempre supostos) jogando na estratosfera o preço da comida, essencial à sobrevivência. Ou de empresas telefônicas que cobram e não entregam o produto cobrado, um tal de “sinal”, sem o qual não conseguimos usar o telefone celular, peça indispensável ao dia a dia do moderno Homo sapiens. Ou de empresas e autoridades na área do transporte que muito cobram e prometem e nada dão ou cumprem.

Nada disso. O Estado, através de seu órgão denominado de “proteção do consumidor” – e que nunca protegeu ou garantiu meu direito ao lugar marcado no meu ingresso num estádio, assim como nunca garantiu que um torcedor tivesse acesso a um sanitário com um mínimo de limpeza e condição de uso – decidiu que o Flamengo aumentou os preços além do que podia e entrou no circuito, jogando no lixo, como de hábito, a peça fundamental ao funcionamento do sistema capitalista: a democracia.

Ora, bolas, esse jogo de futebol é um evento privado e, como disse, não essencial à manutenção da vida dos seus consumidores (sobre esse ponto há controvérsias… mas só como brincadeira ou exacerbação de paixões, não a sério). O clube pode e deve decidir sobre ele, sobre o quanto cobrar, pois é o responsável e, como tal, será também aquele que vai correr os riscos inerentes á sua decisão.

Se a decisão foi correta, terá lucro.

Se foi errada, arcará com os prejuízos.

 

Os principais problemas do futebol brasileiro

sex, 25/10/13
por Emerson Gonçalves |

 

No post sobre a questão dos horários do futebol apresentei alguns resultados  do trabalho do Futebol do Futuro. Dado o interesse manifestado por leitores a respeito, vamos ver a íntegra do estudo apresentado pelo grupo.

O Futebol do Futuro foi formado em novembro de 2012 por um grupo de 21 profissionais ligados ao esporte fora de campo, atuando em diferentes áreas de gestão, maketing esportivo e advocacia. Eles se propõem a apresentar alternativas viáveis para o desenvolvimento do futebol brasileiro a partir de um enfoque técnico. Segundo seus integrantes, eles partilham da opinião de que todos ganharão se tivermos um ambiente de futebol mais eficiente, organizado, transparente e financeiramente sustentável e têm como objetivo final que o Futebol do Futuro aponte soluções técnicas e realistas para nossos principais problemas, criando condições para que possamos competir com o que há de melhor no futebol internacional.

O grupo acredita que por sermos a sétima maior economia do mundo e um país apaixonado e com tradição no futebol, é natural que busquemos estar entre os 3 maiores mercados do futebol no mundo a médio prazo.

Na primeira fase dos trabalhos do grupo foi feito um diagnóstico detalhado da situação atual do futebol brasileiro, com a identificação de 53 itens que integram o que eles chamam de 5 grandes desafios de nosso futebol:

 

Para embasar melhor as proposições, o Futebol do Futuro fez uma pesquisa com cerca de 300 profissionais envolvidos com a gestão e o marketing esportivo, com o objetivo de medir a percepção geral a respeito dos temas que foram identificados. Os resultados da pesquisa dão uma boa visão do que esses profissionais pensam a respeito da estrutura atual do futebol brasileiro, que veremos nas próximas tabelas.

Dos 53 itens pesquisados, nada menos que 37 foram classificados como de “Alto impacto negativo”. Os outros 16 entraram na categoria “Médio impacto negativo” e nenhum foi contemplado como “Baixo impacto negativo”.

Das 5 categorias em que os 53 itens foram classificados, GOVERNANÇA e FINANÇAS aparecem como as de pior índice de impacto médio, 72,1% e 70,6%, respectivamente. Para 68% dos pesquisados, os 18 itens da categoria GOVERNANÇA, apresentam “alto impacto negativo”. Na categoria FINANÇAS esse índice é de 65,8%.

Entre os 53 itens pesquisados, “Déficits financeiros recorrentes e fluxo de caixa negativo” foi considerado o problema mais grave, com 88% dos pesquisados classificando-o como de alto impacto negativo para o Futebol.

O segundo maior problema na opinião dos pesquisados é a “Violência dentro e fora dos estádios”, com 87% das respostas como de alto impacto negativo.

Outro indicador relacionado às Finanças –Alto e crescente índice de endividamento dos clubes” – foi o terceiro maior problema, com 84% de respostas “alto impacto negativo”.

Sintomaticamente, e em linha com o que há anos debatemos, dos 10 principais problemas apontados, 6 – mais da metade – são da categoria GOVERNANÇA.

 

A visão do OCE

Como sabem os leitores desse espaço, todos esses problemas levantados nessa pesquisa do Futebol do Futuro (creio que sem uma única exceção), vêm sendo discutidos aqui há vários anos. Discorde de alguns pontos e conclusões, bem como do emprego de termos como “espanholização”. Por sinal, a esse respeito, na próxima semana apresentarei um trabalho que vai mostrar, através de números financeiros, que a ideia proposta por esse termo não ocorre entre nós, ao contrário da concentração econômica, fenômeno comum a todas as áreas da economia e em todo o mundo.

 

Vivemos um bom momento no futebol brasileiro fora dos gramados. Os debates aumentam em número, frequência e qualidade. O governo, bem ou mal, está procurando agir, o que já é um progresso em relação a tempos pretéritos. Há uma maior cobrança e fiscalização por parte da sociedade. Vozes discordantes vêm ganhando nas mais diferentes áreas. Candidaturas alternativas aparecem e, mesmo dentro de velhos esquemas, não deixam de apresentar um quê de novidade. É o novo velho, provavelmente melhor ou não tão ruim quanto o velho velho.

Aumenta, também, o número de informações sobre o futebol. As pesquisas se multiplicam e fornecem ajuda preciosa para uma melhor compreensão do quadro à nossa frente.

Boas medidas estão em discussão no Congresso Nacional, seguindo-se à aprovação da MP 620 que mexe em alguns pontos importantes (ver posts a respeito aqui).

O futebol vive um nítido momento de transição, de mexidas em sua estrutura, algumas com potencial para provocar mudanças profundas.

Definitivamente, há algo de novo no ar além dos aviões de carreira.

 

O problema do futebol não é o horário

seg, 21/10/13
por Emerson Gonçalves |

 

Dia 8 de setembro foi um domingão ensolarado e a temperatura estava agradável no estádio Couto Pereira, na cidade e na Região Metropolitana de Curitiba, que apresenta o terceiro melhor índice de Bem-estar Urbano – Ibeu – do Brasil. A cidade em si, tomada isoladamente, é a segunda capital brasileira nesse quesito. Mobilidade urbana, em especial numa tarde domingueira, não chega a ser um drama e o Couto Pereira não é um estádio de difícil acesso, pelo contrário.

Às quatro da tarde, o Coritiba enfrentou o São Paulo. De um lado, o dono da casa buscando a recuperação no campeonato e contando com um grande trunfo: o retorno do craque (sim, craque, um dos raros que assim podem ser chamados no Brasil) Alex. Do outro, um São Paulo que estava em crise, mas sempre um time de muita história e tradição e respeito, mesmo naquela fase, e contando, ainda, com razoável torcida no estado paranaense.

O jogo em que Alex brilhou e marcou os gols na vitória por 2×0 com direito a olé no final do segundo tempo, foi presenciado por 16.367 pagantes. Considerando a capacidade oficial do estádio, de acordo com o site do clube, esse público ocupou 44% dos 37.182 lugares disponíveis. O maior público do Couto Pereira nesse Brasileiro foi em outro domingo, no mesmo e nobilíssimo horário das quatro da tarde, no clássico contra o Atlético Paranaense: 19.902 pagantes – 53,5% da capacidade do estádio. O menor público foi no jogo contra a Portuguesa, realizado em 14 de agosto, às nove horas da noite (e não no “tenebroso” horário das 21:50 ou “dez da noite”), com 27,6% da capacidade total ocupada. Esse público correspondeu a apenas 51,5% do número de torcedores presentes ao maior clássico da cidade, no domingão já citado. O jogo com o segundo menor público foi, igualmente, às 21:00 de uma quarta-feira, contra a Ponte Preta. O terceiro menor público foi em outro domingo, na primeira rodada do campeonato, em jogo realizado às 18:30. O quarto menor público foi numa quinta-feira, às 21:00. E o quinto menor público foi, justamente, o jogo de ontem, contra o São Paulo, às 16:00 de um domingo.

No primeiro turno do Brasileirão 2013 o Coritiba não jogou uma única vez no “fatídico” horário das 21:50 como mandante. Mesmo assim, sua média de público no campeonato é de 16.098 pagantes, ou seja, 43,3% da ocupação do Estádio Couto Pereira. O índice de ocupação dos 5 jogos de maiores públicos não chegou à metade: 48,9% dos lugares ocupados. Atualmente, entrando na quarta e última parte da competição, o Coritiba apresenta uma média como mandante de 14.604 torcedores. Até a recém-completada 30ª rodada, o time jogou uma única vez às 21:50 – na 25ª rodada, contra o Flamengo.

Apesar disso tudo, Alex disse em entrevista ao diário Lance, em 9 de agosto, que os estádios estão vazios por causa dos jogos às “dez horas da noite”. Acho ótimo e necessário que Alex fale o que pensa, algo que os jogador es de futebol deveriam fazer, e não somente eles, e que agora começam a exercitar mais, o que é provado pelo movimento Bom Senso FC. Falar o que pensamos é um direito sagrado, um princípio inviolável e deve ser exercitado mesmo. Ainda que o pensamento expressado não bata com a realidade. E, também exercendo meu direito de falar, o mesmo que tem os leitores, é sobre isso que falarei nesse post, que, já aviso, será um pouco longo, pois essa foi somente a introdução.

Em tempo: usei o Coritiba como exemplo nesse post pelo fato dele ter sido motivado pelas declarações de seu principal jogador. Independentemente desse fator, porém, há outro muito interessante: a média de público do Coxa, como veremos adiante, é praticamente igual à média do campeonato.

 

Será mesmo que o horário das 21:50 é o vilão?

 

O primeiro turno do Brasileirão 2013 acabou, com uma média de público de 14.179 pagantes por jogo, ou seja, absolutamente dentro da realidade de nosso futebol dos últimos vinte anos ou mais. Esse público médio corresponde a uma ocupação média dos estádios da ordem de 38%. Entretanto, os jogos no tão assustador e repelente de público horário das 21:50 representaram tão somente 8,3% das partidas disputadas. E serão 8,4% até o final do campeonato.

Nesse momento resta apenas uma rodada a ser disputada em meio de semana, a 34ª. Serão três os jogos no horário das 21:50: São Paulo x Flamengo, Vitória x Cruzeiro e Coritiba x Corinthians.

A média de público nesse momento é de 14.250 torcedores em cada partida, 0,5% superior à média do final do primeiro turno.

Meio por cento… E olhem que tivemos jogos fantásticos, jogos fundamentais para subir, para evitar queda, para correr em busca do título e mais os clássicos regionais, ainda mais atraentes que os clássicos entre times de diferentes estados.

Essa presença média de 14.250 torcedores corresponde a uma ocupação média de 38% dos assentos disponíveis nos estádios da Série A. Já com novas e velhas arenas reformadas no circuito, é bom que se diga.

Como podem 8% determinar uma média baixa?

E os outros 92%?

Não deveriam compensar com públicos elevados?

Sim, por mero exercício lógico: se 21:50 é ruim, quer dizer que os outros são bons, no todo ou em parte. Logo, todo mundo que não pode ir às 21:50 e disso reclama, deveria ir às 16:00 do domingo ou às 19:30 da quinta-feira ou às 21:00 da quarta…

Isso, entretanto, não é o que acontece.

 

Os problemas do futebol brasileiro

 

O grupo Futebol do Futuro é um grupo formado há pouco tempo por 21 profissionais das áreas de gestão e marketing esportivo. Sua proposta é discutir nosso futebol e apresentar propostas e alternativas viáveis para o desenvolvimento desse esporte entre nós a partir de um enfoque técnico. Recentemente, esse grupo conduziu uma pesquisa junto a 300 outros profissionais ligados ao futebol e desse trabalho resultou um levantamento que aponta os dez maiores problemas de nosso futebol, centrados em cinco áreas:

Foram identificados 53 itens, todos eles problemáticos em maior ou menor escala. Desses itens, 37 foram considerados como de “Alto Impacto Negativo” e outros 16 como de “Médio Impacto Negativo”. Nenhum deles, portanto, ficou na definição de “Baixo Impacto Negativo”. Abaixo uma relação com os dez problemas considerados como principais.

O horário dos jogos não está entre os dez principais problemas e também não está entre os 53 itens mais citados. Ou seja, simplesmente não é considerado, pelos especialistas em gestão e marketing esportivo, como um problema.

Por outro lado, Estádios Vazios é um dos dez principais problemas levantados e as causas para isso são várias, desde a violência até o conforto, passando por qualidade dos jogos, custo do futebol (ingresso, deslocamento, consumo no estádio) e outros mais.

 

 Horário e “dinheiro” da TV: falsos problemas

Os direitos de transmissão de nossos clubes são muito bem pagos, quando comparamos população, renda per capita, PIB e área geográfica coberta, por exemplo.

No Brasil, ao contrário da maioria dos países europeus, quem determina o quanto se paga ou deixa de pagar é o sinal aberto, gratuito. É o modelo brasileiro de televisão, implantado ainda na década de 50. Pagar para ver televisão é coisa nova, deve ter o quê? Uns vinte anos, pouco mais.

No sinal aberto é o anunciante, o patrocinador, que paga as contas. A emissora, por exemplo, não paga nada, podemos dizer. Na verdade, ela “repassa” o que os anunciantes pagam. Até porque essa é a sua fonte de renda única, no sinal aberto, ou seja, para pagar o valor Y pelo produto X, ela tem que vender esse produto por Y+y para os anunciantes. O “y” minúsculo representa o valor dos impostos agregados à operação (estamos no Brasil, lembrem-se), o custo das transmissões e das equipes e, por fim, seu próprio lucro, sem o qual nenhuma empresa sobrevive (a menos que não seja privada, o que já é outra história).

Anunciante paga por audiência. Tudo (ou quase tudo) que interessa a ele é o número de pontos de audiência que sua programação vai atingir, é o número de pessoas que verão sua marca, sua mensagem, tanto faz que já sejam clientes ou compradores ou não. Isso significa que é normal e necessário a emissora procurar uma maior concentração de jogos de times com grande audiência. O importante aqui é lembrarmos que hoje, considerando o conjunto do meio TV, todos os clubes têm boa exposição,

Só audiência, porém, não é suficiente para os anunciantes. Ela precisa ser diversificada. Nenhuma grande empresa vende só para flamenguistas ou corintianos, tampouco vende só em SP ou RJ. Essa diversificação necessária ao negócio é, por si só, uma garantia que a televisão não poderá restringir sua cobertura, como muitos críticos dizem.

Ainda dentro dessa diversificação de audiência, o “pacote futebol” da Globo – que é a empresa detentora dos direitos de transmissão – dá ao anunciante as entradas nos noticiários e nas chamadas interprogramas. Com elas, outros públicos são atingidos pelas marcas e mensagens dos anunciantes, ampliando sua audiência.

Para pagar o que paga aos clubes, que, repito, não é pouco, a televisão depende de seus patrocinadores e de sua competência para gerar e manter audiência. Seu mix de receita – e aqui entra o caso da Globo – é constituído em boa parte pelas novelas, noticiários e também o futebol, o que exige um bom equilíbrio entre as três partes. Não pode matar a novela das nove, carro-chefe ao lado do Jornal Nacional, para favorecer o futebol. Essa é uma das razões para uma parte – pequena – dos jogos ser realizada às 21:50. Porque esse horário é o que oferece a melhor combinação, o melhor cruzamento de receitas que permite pagar aos clubes o máximo (na verdade até mais que o máximo, o que é outra história) que o mercado permite.

Um pouco mais: para os clubes, jogar às 21:50 tem aspectos positivos que deveriam ser melhor explorados, pois é o momento em que podem conseguir ótimas audiências qualificadas, o que é bom para seus patrocinadores, bom para sua marca.

Olhando o conjunto da obra, jogar às 21:50, mesmo que fosse ruim, o que não é, conforme acabam mostrando os números nos estádios, seria um preço pequeno a pagar por uma receita que alavancou decisivamente o faturamento de nossos clubes.

Essa alavancagem proporcionada pela TV evidenciou ainda mais o abismo entre o negócio profissional de um lado e o negócio conduzido de forma não empresarial do outro lado. A questão hoje, e o trabalho do grupo Futebol do Futuro evidenciou muito bem, é cuidar das finanças e melhorar a gestão, trabalhando para levar mais torcedores aos estádios, aumentando, melhorando e consolidando as receitas de marketing junto ao mercado e não junto a empresas estatais, cujos patrocínios sempre têm, em maior ou menor escala, um componente político que mascara a realidade.

 

O paraíso do futebol gangorra

sex, 18/10/13
por Emerson Gonçalves |

 

Aviso ao navegante: esse é um post de perguntas. 

Grandes times europeus passam por fases ruins. Geralmente isso acontece em momentos de transição de um grupo de jogadores para outro, quase poderíamos dizer de uma geração para outra, dada a maior estabilidade que têm os elencos europeus, com boa parte dos jogadores permanecendo no clube anos a fio. Não vemos, entretanto, ao menos não com a espantosa regularidade que por aqui acontece, grandes clubes despencarem na tabela de classificação de sua liga nacional, ao ponto, até, de lutarem para não sofrer um rebaixamento de divisão. Vale dizer que os últimos eventos desse tipo, como a queda da Juventus, foram provocados, e muito bem provocados, por fatores, digamos, anormais e fora do âmbito normal e legal do clube e do time. Mais: mesmo em transição de elenco e formação de um novo time, na maioria dos casos ainda conseguem participar da principal copa europeia.

Por aqui, nessa república ao sul do Equador, os times despencam como frutas já maduras, alguns caindo lá do alto, se esborrachando e mudando de divisão. Parece ser uma regra, tal como nos pomares das velhas fazendas.

Em 2006 o Internacional entrou no Reveillon com a faixa de campeão mundial no peito (aliás, as faixas no peito andam em falta no nosso futebol, hein?). Em 2007 não conseguiu passar da fase de grupos na Copa Libertadores, da qual era, também, o campeão. No Brasileiro terminou em 11º lugar e ficou fora da Copa Libertadores 2008. Jogadores foram negociados, tanto saindo como chegando, treinadores foram trocados. Abel Braga, o comandante da Libertadores e do Mundial, foi demitido no meio da temporada, ficou alguns meses fora e voltou, sem mais tempo para tentar algo maior para o clube. Em 2011, depois de ser campeão da Copa Libertadores 2010, o time foi bem no Brasileiro, terminando na 5ª colocação. Na copa continental não passou das oitavas de final.

Campeão mundial em 2005, o São Paulo conquistou três Brasileiros em sequência e passou pela fase de grupos na Copa Libertadores nas cinco edições seguintes à conquista de 2005, chegando à final em 2006. Em 2010, porém, a receita de sucesso desandou, Muricy, que treinou a equipe por três anos e meio, foi demitido e o time passou a ficar  fora das primeiras posições no Brasileiro. Ficou fora de duas edições da Copa Libertadores, depois de sete participações consecutivas e nesse ano esteve na zona do rebaixamento no Brasileiro por quase metade da competição. Vale dizer que ainda não está longe dela. Entre a saída e o retorno de Muricy, sete treinadores passaram pelo clube. Foram 8 mudanças de comando, simplesmente, associadas a várias trocas de elenco.

O atual campeão mundial, o Corinthians, amarga um ano complicado, que pode tornar-se tenebroso. Atualmente é apenas o 13º colocado no Brasileirão, apenas 5 pontos à frente do 17º colocado, que tem uma vitória a mais (primeiro critério de desempate). Matematicamente ainda é possível conquistar uma vaga para a Copa Libertadores, mas o cenário mais provável, hoje, é ficar fora da principal copa continental.

Como entender tamanha queda, principalmente considerando que o time era extremamente estável e competitivo, vencendo também o Brasileiro, além da Copa Libertadores, antes do Mundial? A rigor, um único jogador de peso foi perdido, Paulinho, e outro, Jorge Henrique, foi mandado embora por indisciplina. O treinador foi mantido e os salários são pagos em dia.

Paulinho faz falta, é óbvio, mas é errado e injusto creditar a débâcle do time à sua ausência. Da mesma forma, mas com menos brilho, Jorge Henrique faz muita falta, mas, novamente, fica difícil bater o martelo nessa alegação.

Pode-se dizer, e acredito nisso, que a direção do clube errou negociando Paulinho e defenestrando Jorge Henrique, algo que talvez não tenha sido bem digerido pelo elenco, tanto em termos táticos como de comportamento do grupo. Ao mesmo tempo, as principais contratações não foram das mais felizes, muito pelo contrário, a começar pela de Alexandre Pato, caríssima e sem efeitos práticos à altura no campo e também no marketing. Se não foram das mais caras, mas longe de serem baratas, as contratações de Ibson e Maldonado pouco ou nada agregaram ao time, ao contrário das contratações, sobretudo de meio-campistas, feitas nos últimos três ou quatro anos.

Manter o treinador foi certo ou errado? Certo, claro, embora pela lógica brasileira ele já devesse ter sido demitido ainda na Colombia, depois da derrota para o Tolima. Permaneceu no comando e levou o time às maiores conquistas de sua história. Hoje, porém, com o treinador prestigiado (ou “prestigiado”?), quase o mesmo grupo de jogadores, apoio da torcida e confiança da direção, o time não funciona. Resquício da eficiência perdida, a defesa tomou apenas 18 gols e é, disparada, a melhor do campeonato. O ataque, entretanto, marcou míseros 22 gols e fica à frente somente do ataque do Náutico, lanterna e já praticamente rebaixado.

O caso corintiano não é único, parece uma característica de nossos times campeões, ou, talvez seja mais correto dizer, parece ser uma sina dos campeões. Que trocam a estabilidade vencedora por um futebol gangorra maluco, com baixas espetaculares depois de altas idem. Esse efeito gangorra atinge a todos, indistintamente, como se o sucesso fosse obrigatoriamente sucedido pelo o fracasso.

Será mesmo obrigatório?

Será que faltam elencos aos nossos principais times?

Será que falta planejamento, despido de qualquer ilusão de grandeza?

Será qure falta direção?

Será que falta pré-temporada?

Será que sobra calendário?

Será que sobram jogos?

Será que falta mais profissionalismo por parte dos envolvidos, que depois de grandes conquistas se acomodam?

Será uma mistura de tudo isso e mais algumas coisas não listadas?

Talvez seja o caso de perguntar no posto de gasolina lá na frente. 

A primavera brasileira chega ao futebol

ter, 24/09/13
por Emerson Gonçalves |

 

Seguindo a boa onda inaugurada nos países árabes, a imprensa internacional referiu-se às manifestações de rua que agitaram o Brasil nesse ano como “primavera brasileira”. Porque a primavera, que por sinal começou anteontem nessa metade ao sul do Equador do planeta, é a estação tida e havida como do renascimento, do retorno à vida. As plantas florescem, os campos recebem as sementes para novas safras, grande parte dos animais entra em período de acasalamento e reprodução. A vida floresce.

Ligada à política, ela exprime a conquista e o uso do direito de falar e lutar por mudanças. É o que vemos agora, com variados graus de diferença, é claro, no futebol brasileiro.

Parece haver no ar uma certa efervescência, uma agitação, que tem se expressado, por exemplo, nas declarações de esposas de jogadores pelas redes sociais. Ora reclamam de clubes que não pagam, ora de críticas que consideram injustas aos maridos, ora reclamam, até mesmo, do fato do maridão só ficar no banco e não ser titular. Os termos, geralmente, não são nem um pouco elegantes, mas, até por isso mesmo são bastante sinceros e são intervenções válidas, apesar de recebidas com desdém e ironias por grande parte dos torcedores.

Ontem a CBF divulgou seu calendário para 2014. Por “seu” entenda-se o calendário do futebol brasileiro para 2014, ano de Copa e ainda por cima aqui em Terra Brasilis. Como acontece todo ano, é um calendário problemático, dessa vez ainda mais. Os estaduais começarão 4 dias depois do retorno das férias dos atletas. A já habitual ficção chamada pré-temporada será mais fictícia que nunca, ou melhor, sequer existirá. Não haverá tempo hábil sequer para os exames médicos de rotina de todo início de temporada.

Talvez pelo absurdo maior da situação, um grupo de mais de 70 atletas de times das séries A e B está propondo mudanças no futebol brasileiro, começando pelo calendário, a mais urgente para eles e principal reivindicação. Os atletas planejam uma reunião para os próximos dias, provavelmente em São Paulo, e datas e número de jogos serão a pauta principal.

Segundo matéria do jornal Folha de S.Paulo, hoje, a unificação com o calendário europeu está na pauta, além de outras duas possibilidades de mudança do cenário atual, diminuindo o número de datas para jogos.

Outro ponto forte na argumentação dos jogadores é a necessidade de haver uma pré-temporada de fato, algo inexistente como disse mais acima. “A CBF soltou um calendário absurdo que não respeita nem a lei de 30 dias de férias. Fora as férias, ela não respeita uma lei de preparação dos atletas” – disse Alex em matéria do portal do GloboEsporte.

Segundo ele e outros atletas, a perda maior acaba sendo do futebol brasileiro como um todo, que vê seus principais protagonistas menos do que poderia, pois são poupados em razão do grande número de jogos, ou ficam fora por contusões.

Essa é uma discussão que tem um grande complicador: os campeonatos estaduais. Essas competições têm contado com a reserva de 23 datas pela CBF. Em 2014, devido à Copa, o número cairá para 21, o que, em termos práticos, nada significa, rigorosamente. Tanto é verdade que as atividades terão início em 8 de janeiro (respeitando 30 dias corridos de férias) e já no final de semana, no domingo, dia 12, e também no sábado, dia 11, teremos jogos válidos pelos estaduais. Jogos oficiais, valendo 3 pontos, é bom relembrar.

A respeito das férias e início das atividades em janeiro, os clubes estão pensando em dividir as férias, ocorrendo metade em dezembro e metade em junho, durante a realização da Copa do Mundo. Essa, na minha opinião, parece-me uma proposta bastante razoável, e em caso de problemas com os atletas, pode até ser mudada, com o retorno às atividades no dia 2 de janeiro e o gozo dos 7 dias restantes de férias durante a Copa.

Segundo a Folha, os jogadores estão pensando, também, em incluir na pauta de reivindicações um fair play financeiro em relação aos salários. Todo clube deveria apresentar um orçamento de salários no início do ano e cumpri-lo integralmente no próprio ano, terminando a temporada sem dívida salarial com nenhum jogador. Não esquecendo que luvas e direitos de imagem são parte dos ganhos e também não podem atrasar.

Independentemente dos pontos em discussão e da maior ou menor correção de cada um, o importante é que os jogadores, os principais responsáveis pelo espetáculo, estão começando a se mobilizar e colocar suas vozes nas discussões que agitam o futebol fora dos gramados.

Efeito ou não da primavera brasileira, não deixa de ser uma boa nova. Novas ideias e novos participantes sempre enriquecem o debate.

 

Números que merecem reflexão – Público da Copa x Público do Brasileirão

dom, 07/07/13
por Emerson Gonçalves |

 

A Copa das Confederações terminou e, considerando toda a situação, foi um sucesso. Muito já se falou sobre ela e o evento principal, a Copa 2014, da qual foi apenas um ensaio. Muito mais se falará, sem dúvida, mas o post de hoje vai mostrar um aspecto muito interessante dessa e de outras edições da Copa das Confederações: a média de público por jogo comparada à média de público dos campeonatos nacionais dos países hospedeiros.

Esse trabalho foi preparado pelo César Gualdani, especialista em marketing e sócio-diretor da Stochos Sports & Entertainment, empresa voltada à realização de pesquisas e levantamentos no futebol brasileiro. Aos dados originais acrescentei os públicos médios dos Brasileiros de 2012 e de 2009; o primeiro para ter uma comparação com um campeonato completo e o segundo para ter esses números sem a ausência de grandes estádios, como ocorreu em 2012 e nesse início do atual campeonato.

O estudo chama a atenção para um fato preocupante: a enorme distância entre a média de público do Campeonato Brasileiro da Série A e a média na Copa. Para César Gualdani, o perfil do público foi determinante para essa diferença: “A Copa das Confederações é uma competição a nível internacional e busca saber e se apropriar do torcedor pela mudança de seu perfil com os novos estádios e pela maior utilidade das arenas.

Desde que a Copa das Confederações é usada como teste para o Mundial, em 2001, na Coréia do Sul e Japão, o Brasil é o segundo pior nas médias de público medidas entre Copa das Confederações e campeonato nacional do país no ano de realização da competição. Enquanto o torneio da FIFA teve 50.291 pessoas por jogo em solo tupiniquim, o Campeonato Brasileiro tem 10.813, até a quinta rodada. Isso significa que a Copa das Confederações tem 365% a mais de público do que a competição nacional. “O torneio fez surgir vontade de experimentar o que há muito não se via no Brasil, nem em amistosos. A recepção de seleções diferentes e de disputas não só no futebol, mas em geral”, afirma César.

O Brasil só vence nesse quesito a África do Sul, país que não tem tradição no futebol – e ainda ganha por pouco. O torneio sul-africano em 2009-2010 teve média de 7.639 pessoas por jogo, enquanto a Copa das Confederações teve 36.555 pessoas por partida, resultando em um acréscimo de 378% em relação à competição nacional. A Copa das Confederações na Coréia do Sul e no Japão, em 2001, teve 34.824 pessoas como média. Já os torneios nacionais dos dois países tiveram a média de 14.646 naquele ano: o que resulta em 137% a mais de público na Copa das Confederações – se saindo bem melhor que o Brasil. 

A campeã no quesito é a Alemanha, com incríveis 40.806 pessoas de média no Campeonato Alemão (2005/2006) e 37.694 de público por jogo na Copa das Confederações de 2005, equivalente a 7,6% a mais de público na competição nacional.  “O mercado estrangeiro conhece profundamente o seu publico. Seus jogos são abertos ao mercado. Eles têm tudo bem mapeado”, conclui César Gualdani.

 

Comentário do OCE

Números preocupantes, sim, e muito. Mas, ao mesmo tempo, são números estimulantes, que nos permitem concluir:

Sim, existe público para o futebol.

Sim, há um vasto mercado a ser explorado pelos clubes, ponto que esse OCE vem destacando há muito tempo.

Sim, os clubes podem ganhar muito dinheiro com o torcedor, sem extorqui-lo, sem enganá-lo, sem submetê-lo a vexames e riscos.

Trabalhar com inteligência é o que fará esse público da Copa virar público da Série A. E da B…

Isso inclui, evidentemente, oferecm er um mínimo de conforto e segurança nos estádios. E, nos gramados, oferecer algo mais emocionante e parecido com futebol do que o que vemos habitualmente.

 



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