O jogo que não aconteceu… Que pena

sex, 09/01/09
por Emerson Gonçalves |

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Segundo as agências de notícias, estava tudo certo para a realização de um amistoso entre Corinthians e Peñarol no próximo dia 17, no Estádio do Pacaembu. O time uruguaio receberia duzentos mil dólares, cerca de quatrocentos e cinquenta  mil reais, pelo jogo. Estava escrevendo esse texto na quarta-feira cedo, anteontem, portanto. Precavido, tentei a confirmação da partida junto ao clube e nada consegui. Engavetei o texto, já acreditando que não teríamos jogo, apesar do próprio site da FIFA ter noticiado a realização da partida. 

 

Ao fim e ao cabo, realmente não teremos Corinthians x Peñarol no Pacaembu, o que será uma pena. Independentemente disso, resolvi postar esse texto, agora sob uma ótica ligeiramente diferente.

 

 

Até meados dos anos noventa, os times brasileiros realizavam amistosos em suas casas. Aqui em São Paulo, por exemplo, era uma tradição o São Paulo F.C. realizar um curto torneio ou um jogo comemorativo de seu aniversário e do aniversário da cidade cujo nome ostenta, em 25 de janeiro. Assisti vários deles, da última vez, por sinal, para ver Maradona jogar pelo Sevilla contra o São Paulo de Raí. O baixinho já não era o mesmo de outrora, mas ainda jogava muito e o jogo foi o que deve ser um amistoso, uma bela festa. Como minha produtora foi contratada para captar imagens para um cliente, entrei no campo, mas não cheguei a conversar com El Pibe, mesmo porque ele tinha sempre uma penca enorme de repórteres ao seu redor.

 

Era comum, também, os grandes clubes brasileiros jogarem em cidades distantes de suas sedes, levando grandes multidões aos estádios. Flamengo e Santos eram useiros e vezeiros nessa prática, mas não somente eles. Os times se movimentavam, preparavam-se para a temporada que se iniciava e ainda por cima faturavam lá sua meia-dúzia de caraminguás, sempre muito bem-vindos, pois era uma época em que o dinheiro da TV era pouco ou inexistente, os patrocínios, quando existiam, eram pouco mais que curiosidades, produtos oficiais licenciados não passavam de ficção e, finalmente, os clubes, tanto cá como além-mar, dependiam em 90% ou mais da renda das bilheterias para sobreviver – fora, como sempre, as receitas com as vendas dos passes de jogadores.

 

O calendário da época já era uma aberração, desde o final dos anos 70, mas assim mesmo os clubes davam um jeito de jogar seus amigáveis, como se diz em Portugal. Apesar dos pesares, bons tempos aqueles.

 

Até porque, no verão europeu, ficávamos cá a torcer pelos times brasileiros que enfrentavam os gigantes europeus em torneios como o “Teresa Herrera”, cujo último campeão brasileiro foi o Botafogo, em 1996, derrotando a Juventus nos pênaltis. Antes dele, o São Paulo foi campeão em 92, derrotando o Barcelona, e vice em 1993, para o mesmo Barcelona, numa revanche.

 

Outro torneio importante e que deixa saudades entre nós é o “Ramón de Carranza”, e não é para menos, tem que deixar saudades, mesmo, vejam só a relação de seus campeões brasileiros entre 1974 e 1996:

 

- Palmeiras, em 1974 e 1975

- Flamengo, em 1979 e 1980

- Vasco da Gama, em 1987, 1988 e 1989

- Atlético Mineiro, em 1990

- São Paulo, em 1992

- Corinthians, em 1996

 

Fora os títulos, ainda tivemos como vice-campeões o Grêmio, em 1985, o Santos em 1990 (vice do Galo), o próprio Galo em 1991 e o Palmeiras em 1993. De certa forma, Cádiz e o “Ramón de Carranza” eram nossa praia.

 

 

 

Tudo isso, entretanto, acabou. Do "Ramón de Carranza", de brasileiro só podemos ver Luiz Fabiano, nessa foto comemorando a conquista em 2008, e uma ou outra aparição isolada, não mais em torneios de verão na Europa, mas em torneios no Oriente Médio, como foi o caso do Internacional, no ano passado, em Dubai.

 

O Corinthians iria aproveitar o amistoso do dia 17 para apresentar seu novo time, com Ronaldo, à torcida. Isso aconteceria, entretanto, com o time a somente cinco dias da estreia no Campeonato Paulista. O que permitiria a realização desse jogo é o fato do elenco ter retornado das férias em 26 de dezembro, começando sua preparação mais cedo, bem antes dos rivais, que voltaram nessa semana, como Santos e Palmeiras, ou que voltará somente no próximo dia 12, o caso do São Paulo.

 

No janeiro brasileiro, portanto, ainda é possível algum jogo amistoso, de preferência no Brasil. Para os times que disputarão a Copa Santander Libertadores, entretanto, essa é uma hipótese descartada a priori. O Palmeiras, por exemplo, tem seu primeiro jogo pela fase Classificatória, já no final desse mês, no dia 28. Viagens, consequentemente, nem pensar.

 

Agosto e setembro, entretanto, são meses simplesmente impossíveis para os times brasileiros excursionarem, pois o Campeonato Brasileiro já está em sua fase decisiva, agravada pelo fato de, nesse período, ser intensa a concentração de jogos às quartas/quintas e domingos.

 

Dessa forma, nossos grandes clubes vão ficando mais e mais caseiros, mais e mais paroquiais, mais e mais distantes da possibilidade de virem a se tornar marcas globais, como já são Boca e River.

 

Uma pena o Corinthians ter sua vontade frustrada.

Era para ser contra o Boca, o que seria melhor ainda, mas o Peñarol também é um grande adversário. E a audiência da TV seria muito boa, pois também a torcida são-paulina acompanharia o jogo para ver em ação um dos adversários do seu time, pois os uruguaios disputam uma das vagas para a fase de grupos da Libertadores contra o Independiente, de Medellín, e a torcida de Muricy é pelo Peñarol, pois é melhor viajar para o Uruguai do que para a Colômbia.

Uma prova a mais da validade e do interesse que esses jogos amistosos despertam, até mesmo entre outras torcidas.

 

Quero ver os times brasileiros de novo jogando os torneios europeus. Quero sentir novamente a sensação de ver bons jogos de futebol, sem os dramas e ansiedades dos jogos que valem título.

Quero de novo a chance de ver futebol pelo futebol, simplesmente.

Disso, confesso, eu tenho saudades.

 

 

 

Atualização

 

Desde ontem, sexta-feira, o Corinthians negocia a realização do amistoso com o argentino Estudiantes de La Plata, também disputando sua classificação para a Fase de Grupos da Copa Santander Libertadores 2009.

Um excelente adversário, sem dúvida, ainda mais comandado por Verón, mas por uma questão de carinho com o futebol uruguaio, até preferia ver o Peñarol.

Em termos de público, apesar do acerto em cima da hora (se confirmado), terá até mais atrativos, em função da velha rivalidade e da recente exposição que teve o Estudiantes entre nós, disputando a final da Sul Americana com o Internacional e depois a final tríplice do Campeonato Argentino.

 

Enfim, parece que teremos jogo. Alvíssaras!

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3 Comentários para “O jogo que não aconteceu… Que pena”

  1. 1
    Raphael G.P.:

    Calma, Émerson. No dia em que nosso calendário se adequar com o calendário do futebol europeu, isso voltará a ser possível.

    E eu também estou torcendo por isso!

  2. 2
    Daniel R. Silva:

    Você nao perdeu a oportunidade de acompanhar o futebol uruguaio. Na mesma data que o Peñarol enfrentaria o Corinthians, o próprio clube auri-negro enfrentará seu rival local, o Nacional, e o vencedor dessa partida decidirá o “Torneio de Verano” contra Cruzeiro ou Atlético MG, que jogarão na preliminar do clássico uruguaio. Todos os jogos realizados no Estádio Centenário de Montevidéu.
    Agora, se as redes de televisão brasileiras terão interesse de transmitir esse mini-torneio, já é outra história.


    Concordo, Daniel, e creio que transmitirão e eu, claro, serei um espectador.
    Seria bom ver Peñarol x Cruzeiro, se bem que o novo Galo de Leão com Junior, Renan e Diego Tardelli (sempre gostei deste moleque) poderá ser bem interessante, embora, é claro, o time não vá estar pronto.
    EG

  3. 3
    Júnior Martins:

    A própria tv aberta já transmitiu um torneio desse tipo em 2006 quando o Flamengo participou, agora deve ser na tv fechada, eu como bom admirador do futebol uruguaio, e grande torcedor do Peñarol, não posso perder!



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