Os últimos meses foram de muita intensidade na minha vida profisssional. Vivi experiências inéditas, momentos muito especiais e gostaria de compartilhar um pouco sobre isso com vocês.
Como todos têm conhecimento, assumi o desafio de comandar a Seleção Brasileira de Beach Soccer neste novo ciclo de renovação do esporte aqui no Brasil. Após a derrota na Copa do Mundo FIFA 2011 na Itália e 2 derrotas na Copa Intercontinental de Dubai, todas para a Rússia, a seleção parecia muito “bagunçada” (não sei se é o termo ideal) no final de 2012, muitas brigas internas, grupos divididos e, principalmente, ausência de uma estrutura mínima de trabalho para os jogadores e Comissão Técnica. Muitos dos que estão à frente do esporte no Brasil, então, chegaram a conclusão de que a minha entrada como treinador poderia fazer o Brasil voltar a brilhar em campo, seria a solução para o fim das derrotas, a minha imagem também traria grande apelo para o esporte. Assumi, então, em janeiro deste ano e fiz uma série de exigências, período de treinamentos longos, comissão técnica com profissionais gabaritados em cada área, total autonomia na escolha dos jogadores e outras. Pela primeira vez na história do esporte convoquei 25 jogadores para o período de treinamentos, dando oportunidade a todos que se destacaram nas competições de clubes em 2012, uma experiência inédita na história do esporte, onde estes 25 lutariam por 15 vagas. O trabalho foi excelente e os jogadores foram fantásticos em todos os aspectos, compraram a ideia do trabalho profissional e de resultados.
Tivemos sucesso nas 2 primeiras competições do ano, Copa América e Copa das Nações, disputadas em Santos e, em seguida, fomos em busca do nosso maior desafio do 1º semestre as Eliminatórias para a Copa do Mundo FIFA 2013 na Argentina. Após muitos problemas extracampo, brigas entre os que estavam à frente do esporte, demora na definição da viagem, tivemos muitas dificuldades na Argentina, perdemos para o Paraguai nos penaltys nas semifinais e precisávamos vencer o Equador de qualquer maneira na disputa do 3º lugar para não ficar pela primeira vez de fora de uma Copa do Mundo FIFA. O grupo respondeu muito bem às dificuldades, fomos com tudo para cima do Equador e conseguimos em março a vaga na Copa do Mundo FIFA 2013, a ser disputada em setembro no Taiti. Foi fundamental a participação da CBF, representada pelo grande Coronel Flaviano, que trouxe um pouco mais de tranquilidade a todos da equipe, garantindo junto com a Koch Tavares, representada pelo Daniel Robles, o mínimo necessário de estrutura e organização.
As confusões, brigas extracampo continuaram, infelizmente, e de março a julho a seleção ficou sem treinar, apesar dos vários pedidos feitos por mim para que tivéssemos treinamentos regulares. Só iniciamos os treinamentos no final de julho em Vitória/ES visando a disputa da Copa do Mundo, foi um período ótimo e muito proveitoso. Como sempre fomos muito bem recebidos no Espírito Santo onde todos gostam muito do nosso esporte e o meu amigo Paulo Sérgio realiza um trabalho de excelência há muitos anos, realizando grandes competições e revelando grandes jogadores como o atual melhor jogador do mundo Bruno Xavier e, principalmente, transformando o esporte numa paixão por todo o Estado. A segunda fase da preparação foi no Rio de Janeiro, também tivemos treinos excelentes onde os jogadores puderam dar o seu melhor e com muitas dificuldades, porque todos os 18 estavam muito bem, chegamos a lista final dos 12 jogadores que iriam defender o Brasil na Copa do Mundo FIFA 2013.
Partimos, então, para o maior desafio do ano, a Copa do Mundo FIFA 2013. O grupo de jogadores, comissão técnica, dirigentes estava muito unido, com muito comprometimento e, principalmente, muita alegria de defender o Brasil. Eu confesso que estava muito ansioso, seria a minha primeira Copa do Mundo do lado de fora do campo, sem poder chutar a bola e ajudar o Brasil dentro de campo, mas muito preparado para suportar a pressão e trazer tranquilidade aos jogadores, o que mais eles precisavam era de tranquilidade e segurança. Começamos muito bem na primeira fase, 3 boas vitórias, um pouco mais de dificuldade com a Ucrânia, que já esperávamos, mas encerramos com um grande jogo contra Senegal e estava muito confiante em todos, as jogadas ensaiadas, de bola parada principalmente, estavam saindo e o grupo crescia a cada partida. Pegamos o Japão nas quartas, para mim o jogo das quartas é sempre muito difícil, é o primeiro jogo eliminatório, não fomos muito bem, mas nos superamos na vontade e na raça e vencemos, mais uma etapa conquistada. Nas semifinais, um jogo de total domínio do Brasil, tivemos muitas chances de vencer a Espanha, muitos gols perdidos e o esporte é bonito por isso (ninguém vence na véspera), a Espanha se superou conseguiu fazer 2 gols, contando um pouco com a sorte, e nos superou chegando à final contra a Rússia. Ficamos todos muito chateados com esta derrota, principalmente porque dominamos o jogo, tivemos muitas chances de gol, mas não fomos competentes e valeu o ditado “quem não faz, leva”, a bola nos puniu. Foi realmente uma experiência incrível e única na minha vida, acompanhar este jogo do banco, sem poder entrar em campo, um grande aprendizado para o treinador Júnior Negão. Ao mesmo tempo que a tristeza e a decepção me consumia por dentro, tive que encontrar forças para motivar o grupo em busca do 3º lugar.
Na disputa do 3º lugar, fizemos um grande jogo e vencemos o Taiti nos penaltys, num jogo em que a arbitragem uniu forças à excelente seleção do Taiti e quase nos tirou a medalha de bronze com erros bisonhos. Foi uma grande experiência para a minha vida, jamais poderia imaginar como é difícil ficar ali no banco, de fora do campo, sem poder ajudar mais ativamente! É claro que todos esperávamos a conquista do título, do inédito pentacampeonato, queríamos uma revanche contra a Rússia, mas a derrota muitas vezes é importante para mostrar o que precisamos melhorar, o quanto estamos atrasados principalmente em relação à Rússia em termos de estrutura e organização. Sempre disse que temos os melhores jogadores do mundo, mas isso não é suficiente, precisamos de estrutura, organização, investimento, para que possamos voltar a ter a melhor equipe, voltarmos à hegemonia do esporte mundial!
Gostaria, antes de mais nada, de agradecer a todos os jogadores que estiveram conosco neste ciclo da Copa do Mundo FIFA 2013, todos os 18 que foram previamente selecionados, os garotos que completaram os treinamentos em Vitória mesmo sabendo que não iriam à Copa e foram muito importantes. A grande maioria é formado por amigos e companheiros que estiveram ao meu lado dentro de campo durante vários anos de muitas conquistas e muitas batalhas vencidas juntos! A todos os jogadores dedico o meu trabalho e a minha luta para que o esporte possa crescer cada dia mais e que possamos em breve retomar a hegemonia do esporte, o que só será possível com muito trabalho e o suporte com organização, estrutura e investimento! Os nossos jogadores são verdadeiros guerreiros que lutam muito no dia a dia para poderem se dedicar ao esporte e, mais do que tudo, para defender as cores do Brasil nas diversas competições, a eles todos os méritos possíveis. Gostaria, também, de agradecer a todos da Comissão Técnica, Rodrigo “Chumbinho”, Fábio, Murilo, Dr. Renato, Chicão, Erasmo, todos profissionais da mais alta qualidade e competência, que se deram o seu máximo em cada dia de trabalho para que o Brasil pudesse alcançar grande sucesso, muito obrigado amigos! Estamos juntos e vamos trabalhar, pois não podemos ficar satisfeitos com as derrotas recentes, não podemos nos acostumar com elas!
Aos dirigentes, faço agradecimentos especiais ao Coronel Flaviano, que esteve presente conosco do início ao fim, lutou pelas melhores condições para todos, não nos deixou em qualquer momento, sempre cumprindo todos os horários definidos pela Comissão Técnica, se a comida tava ruim ele estava junto conosco e não fez questão de qualquer privilégio, pelo contrário, um comandante humilde e respeitado por todos. Ao Daniel Robles, também agradeço pelo grande profissionalismo, por trazer mais segurança a todos os jogadores e comissão técnica, pela liberdade na condução do trabalho, junto com o Coronel Flaviano nos deram as condições possíveis e necessárias durante todo o período em que estivemos juntos. Também agradeço o apoio dos Presidentes das Federações do ES, Paulo Sérgio, do MA, Eurico e do RJ, Rodrigo Cação, que estiveram ao lado da seleção durante todo o período, oferecendo apoio em todos os momentos, diferentemente de outros presidentes que apoiaram medidas judiciais para que fossem paralisados os treinamentos, ou seja, prejudicando a preparação da seleção.
Agradeço, também, o apoio de Sr. Joan Cusco, que tem demonstrado publicamente grande apoio ao beach soccer brasileiro, com ideias sempre em prol do desenvolvimento e crescimento do esporte e aproveito para parabenizá-lo em nome da FIFA e de todos que participaram da organização da Copa do Mundo FIFA 2013, um grande espetáculo do esporte mundial, arena lotada todos os dias, organização impecável sob todos os aspectos, realmente muito impressionante o sucesso alcançado. Em especial, agradeço o apoio do Sr. Marco Polo Del Nero, Presidente do Comitê FIFA de Futsal e Beach Soccer, Vice-Presidente da CBF, que nos apoiou pessoalmente e nos parabenizou pelo trabalho, apesar da derrota, e nos tem oferecido junto com o Coronel Flaviano, em nome da CBF, grande apoio na condução da Seleção Brasileira e que a Copa do Mundo, com sua presença atuante, possa lher mostrado o quão grande e respeitado é o nosso esporte, que isso incentive a CBF a nos oferecer ainda mais apoio, estrutura e investimento na modalidade. Também agradeço a confiança no nosso trabalho demonstrada pelo Sr. Luis Felipe Tavares, durante todo o trabalho e nas conversas pessoais que tivemos. É preciso união de forças para que tenhamos o cresimento da modalidade, com um calendário fixo e certo de eventos, assim como acontece com outros esportes, como o futsal, volei e basquete, o nosso esporte não fica atrás destes em qualquer critério (público, mídia, paixão) a não ser na falta organização, estrutura e investimento!
A luta pelo esporte não pode parar e continuarei me empenhando pelo crescimento e desenvolvimento da modalidade, como venho fazendo nos últimos 20 anos. O beach soccer é a minha vida e nada me fará fazer parar de trabalhar para que este esporte seja colocado no seu devido lugar, principalmente aqui no Brasil.
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