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Estamos em janeiro. Magrelo como um louva-deus, cabelos longos e escorridos… Washington Sebastián chega na Delegacia de Imigração com um funcionário do Botafogo. O uruguaio de 1,93m está ali para fazer seu registro de estrangeiro. Ao se aproximar do posto, é reconhecido pela policial que, botafoguense, comenta:
- Poxa, vê se ajuda a gente. Porque… nos últimos três anos foi só tristeza.
Washington Sebastián rebate:
- El Loco no estaba acá.
A policial sorri. E Washington Sebastián Abreu arremata:
- Com El Loco acá… és campeón.
Três meses depois, Washington Sebastián – ou mais popularmente El Loco Abreu – cumpriu a promessa. E cumpriu de forma inesquecível – transformando tensão em leveza. Arrumou um jeito de eternizar um pênalti – de transformar o mais objetivo e seco dos lances numa imagem perene. A sutil parábola que enganou o goleiro Bruno tirou anos de peso das costas alvinegras. E entronizou Abreu instantaneamente no panteão de um clube peculiar.
O Botafogo é um clube de extremos. Pula da tragédia para a glória num estalar de dedos. Não é preto e branco por acaso – até porque o acaso passa longe de General Severiano. O botafoguense é um pessimista que acredita no milagre. E acredita, sobretudo, que toda coincidência é um indício. Pobres de nós, pretensos especialistas, que não fomos capazes de enxergá-los.
Antes do Campeonato, o comentarista esportivo que dissesse que o Botafogo ganharia os dois turnos do Campeonato Carioca… seria internado no pinel e tratado à base de choque elétrico. O time era fraco, não tinha consistência nem elenco – e buscava se reconstruir com uma série de jogadores que não deram certo em outro lugar.
Para o olhar treinado, porém, os indícios do título improvável eram muitos. Fazia 21 anos da épica vitória maurícia em cima do Flamengo – e do fim do jejum de 21 anos sem título (num jogo repleto de referências ao número 21). O campeonato era de 2010 (olha o 21 de novo) – 100 anos depois do primeiro titulo que o clube comemorou, o de 1910, que lhe concedeu o apelido de Glorioso. No início do campeonato, após a goleada por 6 a 0 para o Vasco, um torcedor botou fogo na camisa do clube. Loco Abreu chegou – e trouxe sua superstição: usar a camisa 13. Recebeu a dita cuja das mãos de outro supertiscioso histórico, El Lobo Zagallo. Herrera, o outro atacante, também tem uma camisa off-11 – usa o numero 17. E o clube contratou Joel Santana – conhecido por seu futebol eficiente… e por sua inacreditável estrela.
Ora, direis, ouvir indícios… bom, é claro que há muito de lenda nessa sopa de números. Mas, para o Botafogo, 2010 era um oásis necessário. Nelson Rodrigues dizia que o botafoguense é um calabrês – que precisa da derrota para se realizar. Sim, mas não apenas. O Botafogo precisa do contraste – precisa do fundo do poço para o salto seguinte.
De 2007 a 2009, o Botafogo pagou um mico atrás do outro. Perdeu três decisões para o Flamengo, duas nos pênaltis. Antes da segunda derrota, veio o orangotango do pranto coletivo – que carimbou o time como “chorão”. E ainda teve mais – em 2007, a derrota das calcinhas diante do River Plate e a eliminação na Copa do Brasil – depois de um frangaço; em 2008, o cartão vermelho afanado pelo zagueiro André Luís na Copa Sul-Americana.
Todo esse peso pareceu levitar naquela bola de Abreu. Durante o campeonato, perguntei a um dirigente do clube – que aqui ficará anônimo – se o uruguaio não era limitado demais. A resposta:
- O Abreu é para as finais. Ele não sente.
Bom, bota “não sente” nisso. A marca do pênalti era uma espécie de vulcão islandês do Botafogo. Todo mundo tinha medo de passar por perto. Dois dos três títulos perdidos contra o Flamengo… foram perdidos na marca de cal. E perdidos diante de Bruno, o grande nêmesis alvinegro. O goleiro foi o melhor jogador em campo na final de 2007. E o grande responsável pelo titulo de 2009 (pegou penais durante o jogo e na disputa decisiva) .
E, bom, esse era o cenário aos 27 minutos do segundo tempo de um jogo empatado em 1 a 1. Jogo mascado. Da direita veio uma falta mal cobrada e um penal de rara infelicidade cometido pelo (quase) sempre cerebral Maldonado. Herrera havia cobrado o pênalti do primeiro tempo… logo, era de se esperar nova cobrança argentina. Mas não. Washington Sebastián pediu a bola. A tensão no Maracanã era quase palpável. Menos, ao que parece, para o dono da camisa 13.
Abreu tirou da cartola o pênalti muhammad ali – pairou como borboleta, picou como abelha – e entregou ao torcedor do Botafogo a imagem perene: Bruno, mais que enganado – desenganado – no chão… enquanto a bola de rara picardia flutuava, beijava o travessão e caía nas redes… um momento youtube instantâneo, a redenção pelo tri-vice justamente num penal. E as palavras de Abreu ecoando na mente da policial federal:
- El Loco no estaba acá.
El loco penal deixou o Maracanã direto para a galeria dos grandes gols decisivos do Campeonato Carioca. Nessa videoteca virtual, Loco Abreu pendurou seu quadro – ao lado da barriga de Renato, da cabeçada de Rondinelli, da falta de Pet, do toque de Maurício, do balaço de Cocada… de todos aqueles gols que somos incapazes de esquecer. Lá está: no dia 18 de abril de 2010, El Loco Abreu, camisa 13, bateu um pênalti sorrindo, fez seu décimo-terceiro gol com a camisa do Botafogo e ganhou um campeonato.
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24 maio, 2010 as 21:42
Eu sinto sua falta das suas análises periódicas dos jogos.
Talvez seja o mais brilhante analista hoje do futebol e cuja ausência foi preenchida pela prancheta de Lédio Carmona.
De todo modo, sempre me ressenti pela falta de seus textos.
E sempre que tem um novo aqui, nessa vida bissexta de colunista, eu corro para ler.
E acabei que descobri este texto sobre o Botafogo, o meu Botafogo, que eu ainda não tinha lido.
Somente um botafoguense para entender cada entrelinha, superstição, predestinação e análise sua, sem paixões nem excessos, da dolorida – e sempre à espera de uma catarse – alma alvinegra.
Cada palavra fez brilhar e doer mais a estrela solitária que carrego no peito como tantos e tantos botafoguenses.
Obrigado, Gustavo.
Grande abraço,
Rômulo.
29 abril, 2010 as 19:45
No início diziam que éramos fracos e coisa e tal;
Depois de perdermos do Vasco, ganhamos a semifinal de nosso arqui-rival e fomos à forra ganhando o Título da Taça Guanabara;
Aí mudou-se o discurso e começaram a dizer: serão tetra-vice, vcs tremem na final. E nós aguentamos tudo isso;
No meio da Taça Rio, fomos eliminados pelo Santa Cruz, no Engenhão, e, novamente, houve muita gozação. Aguentamos.
Chegamos na semifinal e ganhamos do Fluminense, habilitando-nos a jogar a final, novamente contra o Flamengo.
E aí tudo aconteceu como tinha que acontecer, com raça e determinação ganhamos o título, merecidamente.
Até na arquibancada, ganhamos também a “guerra das torcidas”.
Tudo foi fruto de muito trabalho e determinação.
Parabéns Botafoguenses. Este Título ninguém mereceu mais do que o nosso clube e o nosso time provou ser o melhor, sem dúvida.
Sds Alvi-negras a todos.
28 abril, 2010 as 15:05
Belíssimo texto. Dá-lhe Fogão!
28 abril, 2010 as 11:20
A matéria é excelente !!!! Muito digna e acho que somente compreendida por Botafoguenses apaixonados !!! Parabéns !!!!
26 abril, 2010 as 16:16
Parabéns, Gustavo, suas palavras me levaramàs lágrimas.
Salve GLORIOSO BOTAFOGO.
26 abril, 2010 as 08:43
fiquei emocionada!!!
26 abril, 2010 as 01:39
FENOMENAL! GENIAL! LINDO DE MAIS !
upppp!!
25 abril, 2010 as 23:48
Comunidade no orkut, do golaço do Abreu!!
https://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=100858870
25 abril, 2010 as 21:07
belo texto.adorei.emocionou um botafoguense apaixonado.valeu.
25 abril, 2010 as 21:03
otimo texto
parabens.
e viva o botafogo o glorioso.
25 abril, 2010 as 18:12
Excelente artículo, felicitaciones al períodista; y felicitaciones al LOCO ABREU, esperamos que la “13″ celeste brille en Sudafrica para alegría de todo el pueblo uruguayo.
Sou uruguaio, de uma cidade ali pertinho da fronteira sul do Brasil, torcedor do Internacional, mais nesse carioca estive torcendo pelo Glorioso e por “O LOCO ABREU”
Um abraço…
25 abril, 2010 as 17:53
belo texto, parabéns!
25 abril, 2010 as 17:20
Muito bom o texto.
O Botafoguense é sim pessimista e tem um complexo de vira-latas que nem mesmo o torcedor do Atletico-MG tem.
Me permita dizer que vi alguns indícios bem recentes de que o Botafogo seria campeão em 18/04/2010.
Os pênaltis nas partidas contra o Santa Cruz e principalmente Fluminense que não entravam no gol de Jéfferson e a “justa” expulsão de Juan na semifinal contra o Vasco. A expulsão de Juan pode ter sido injusta naquela partida contra o Vasco, mas fez jus ao lance da falta do Juan em cima do Maicossuel na 1a partida das finais do Caricoa de 2009, quando Juan deveria ter sido sumariamente expulso e o juiz afinou. A expulsão veio com 1 ano de atraso, assim como o Título do Botafogo.
Diante destes indícios, além dos demais já citados pelo indiscutível Alvinegro Gustavo Poli, “Eu Já Sabia” que o Botafogo quebraria o tabu e se sagraria Campeão Estadual em 2010.
Grande Abraço!
25 abril, 2010 as 17:08
lindo texto da gosto ver loco abreu da gosto ver herreira assim como todos honhando nossa estrela da gosto ser botafogo
25 abril, 2010 as 17:03
Mas uma vez o herói Botafoguense El LOCO ABREU dando o título ao Botafogo, incrível esse LOCO.!.!.!.!
25 abril, 2010 as 16:34
comcordo o texto e bom , mais fico com meu caro JOSE BOMFIM dizer que nos botafoguense samos pessimista ta por fora.
nos com garra e luta dentro de campo tiramos o que seia o tetra do flazinho no RIO e tambem chamar um time que enriqueceu com sua historia o futebol do BRASIL com sua galeria de craques com (DIDI, NILTON SANTOS,MANE , O FURACAO JAIRZINHO ENTRE TANTOS OUTROS ) temanhos o respeito pois nao e atoa que samos chamados o GLORIOSO
25 abril, 2010 as 16:32
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TEXTO MUITO LINDO ! OBRIGADO GUSTAVO.
E NIGUÉM CALA ESSE NOSSO AMOR, E É POR TI FOGO !!!
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25 abril, 2010 as 16:04
Bela matéria, só uma correção: eu (botafoguense) não sou pessimista. MAS SOU SUPERTICIOSO.
25 abril, 2010 as 15:20
Parabéns pela sua capacidade narrativa, Loco Abeu, realmente, marcou história, com aquela cobrança de penâlti, mas daí considerá-lo um jogador capaz de ser titular no ataque do Botafogo, vai uma distância enorme. E caso o Botafogo não queira correr riscos de rebaixamento no próximo campeonato brasileiro, Joel Santana terá que efetivar Edno(no lugar de Lucio Flávio) e Caio(no lugar de Loco Abbreu) como titulares no time.
A urubuzada perdeu em apenas uma semana três títulos: Taça de Bolinhas, Taça Rio e Campeonato Carioca
Saudações Alvinegras
25 abril, 2010 as 15:15
o cara da decisão, acostumado a ser frio no momento serto… el locco abreu!!!!…