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O legado de Armando

seg, 29/03/10
por gustavo poli |
categoria Futebol

“Literature is news that stays news”

armandoA frase é do poeta americano Ezra Pound: literatura é a notícia que permanece notícia. E explica um pouco por que a morte de Armando Nogueira encerra uma era na crônica esportiva nacional. Armando sempre enxergou além. Como Nelson Rodrigues e, antes dele, Mário Filho… Armando nunca viu o esporte como algo frio e objetivo. Sempre observou o drama – a dimensão profunda atrás de cada disputa.

Armando escreveu que se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola.  Armando, se escrevesse sobre si mesmo, talvez fizesse analogia afim. Algo como… Armando, se não tivesse nascido homem em Xapuri há 83 anos, teria nascido pena. Pena, sim, não caneta. Pois Armando sempre pareceu pertencer a outra era. Foi um romântico, um otimista, capaz de enxergar como esteta a pelada da esquina.

No aniversário de 25 anos da morte de Nelson Rodrigues, Armando escreveu um texto para lembrar do amigo. Um parágrafo desse texto resume sua visão – e seu legado esportivo:

“A meu juízo, o jornalismo esportivo se divide em três categorias profissionais: o repórter, que lida com informação; o comentarista, que se ocupa da análise dos fatos; e, por fim, o cronista, que não tem maiores compromissos com a realidade

Essa categoria Nelson elevou a enésima potência – e Armando seguiu seus passos. E por conta deles, podemos dizer que não fazemos feio diante da frase de Pound. Pelo contrario, fazemos bonito. Podemos ler uma crônica de Nelson sobre a Seleção de 1958, hoje, e sentir que estamos lendo algo novíssimo.  Ou ler uma crônica de Armando sobre a Seleção de 1970… e ter aquela sensação de novidade – ou de peculiaridade – de conhecer a visão única e subjetiva de uma história. Jornalismo literário – num passo além de Gay Talese.

O drama esportivo de Armando Nogueira sempre foi mais lírico do que épico. Por vezes era hiperbólico, como Nelson. Mas, mais frequentemente, era poético e minimalista. Vez por outra, claro, havia a epopéia, a glória, a conquista. Mas, no geral, Armando observava a bola como um objeto especial, o passarinho perdido nos dribles de Garrincha, a sutileza oculta em cada drible. Era capaz de vislumbrar poesia num passe de três dedos, de encontrar arte num bloqueio de voleibol.

O melhor Armando era irônico e doce – aquele que dizia que copiar o bom era melhor do que inventar o ruim. Com seu desaparecimento, a crônica-esportiva-como-ela-era perde uma espécie de último mosqueteiro.  Reforço para o time literário-esportivo lá de cima –  onde craques como Albert Camus, Nelson Rodrigues, Mário Filho, João Saldanha, Paulo Mendes Campos dividem uma mesa-redonda que deixa as nossas, aqui embaixo, num amplo e irrecorrível chinelo.

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22 Comentários para “O legado de Armando”

Páginas: [2] 1 »

  1. 22
    LEONARDO:

    QUEM TEM Q FICAR CO MESSE TITULO É O SPORT, E O MAIS JUSTO, O FLAMENGO NAO ENTROU EM CAMPO, …SO PQ O SPORT E UM CLUBE PEQUENO, E A CBF PEGA PRESSÃO DO FLAMENGO, A CBF TEM Q MOSTRAR Q E SUPERIOR, O NORDESTE TODO APOIA O SPORT…….FLW ABRAÇOS..

  2. 21
    JOELTON FERREIRA:

    POW GALERA É RIDÍCULO DESMERECER O TÍTULO DO FLAMENGO DE 1987 VELHO, O MENGÃO JOGOU CONTRA OS PRINCIPAIS CLUBES DO PAÍS, JOGANDO UM FUTEBOL MÁGICO! DEFENDO ESSE TÍTULO NÃO SÓ PORQUE SOU FLAMENGUISTA, POIS SE QUALQUER OUTRO CLUBE QUE ESTIVESSE NO MÓDULO \"VERDE\" DAQUELE ANO, TIVESSE SIDO O CAMPEÃO, MERECIDAMENTE SERIA O CAMPEÃO DE 1987 DA COPA UNIÃO E PRONTO. NO FUNDO TODOS OS TORCEDORES SABEM DISSO. E MAIS CONCORDO COM A NOVA FÓRMULA DO CAMPEONATO BRASILEIRO POR PONTOS CORRIDOS. GANHA O MAIS REGULAR, O QUE TEM MELHOR ELENCO… É EMOÇÃO O CAMPEONATO INTEIRO, POIS É DISPUTA POR TÍTULO, POR LIBERTADORES, POR SULAMERICANA, PRA NÃO SER REBAIXADO, ENFIM, É RENDA O ANO INTEIRO! SÓ FALTA ADOTAR O CALENDÁRIO EUROPEU QUE AÍ SIM, A EVOLUÇÃO VAI SER PERFEITA.

    OBS AH SÓ UM RECADINHO ESPECIAL PROS TORCEDORES DO SPORT \" QUAL A IMPORTÂNCIA E O PESO DO SPORT NO CENÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO\" ??? KKK ME DESCULPE MAIS O PEQUENINO SPORT CLUBE NÃO PASSA DE UM MERO TIMINHO! A VIDA DE VCS É RECORRER AO PASSADO MESMO POIS O FUTURO DE VCS É NA SÉRIE \"B\" =(IGUAL) \"MÓDULO AMARELO\"(1987) VCS NÃO CONSEGUEM NEM SE MANTER NA ELITE DO FUTEBOL NACIONAL!!! COMEMORAR O TÍTULO DO MÓDULO AMARELO DE 1987 COMO TÍTULO NACIONAL, É BRINCADEIRA VELHO!!! KKKKKK

    E MAIS A CBF RECONHECER O TÍTULOS DE 1959 A 1970 COMO TÍTULOS NACIONAIS É UMA VERGONHA, É UM ABUSO DE AUTORIDADE SEM TAMANHO! O PIOR DE TUDO É A CARA DE PAU DOS CLUBES ACEITAREM TAL HOMENAGEM! O SANTOS DE PELÉ GANHANDO 5 TÍTULOS SEGUIDOS JOGANDO APENAS 12 PARTIDAS AO TOTAL KKKKKKK SÓ RINDO MESMO

  3. 20
    DENNYSON:

    VIU FLAMEGUISTAS SINTO MUITO E SE CONFORME COM O PENTA PIUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU
    SPFC UNICO HEXA

  4. 19
    waldemar melo:

    como podemos julgar um campeonato legitimo do fla, sempre o flamengo assinou e foi apoiado per todos inclusive o são paulo,
    vasco e outros, o sporte e campeão da segundinha, pois na quele tempo não se dava valor devido para a segunda divisão
    sou hexa e fui apoiado por todos.

  5. 18
    Alexander Grünwald:

    Belas comparações. Realmente o time lá de cima está uma verdadeira seleção.

    A sutileza do texto e a visão poética do mestre devem, sim, inspirar novas gerações. Tudo tem seu tempo. E eu me recuso a aceitar que o nosso está sendo perdido ou mal utilizado. Pode ser apenas a época de semeadura, não de colheita, mas é um tempo que vive daquilo que Armando deixou impresso por aí.

    É fato, infelizmente, que a crônica esportiva brasileira nunca mais será a mesma sem ele. Assim como nunca mais foi a mesma a partir dele. Isso é indelével. É aquilo a ue costumamos chamar de legado.

    Abraços
    Grün

  6. 17
    Flacó:

    ” Os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão ” por Armando Eterno Nogueira

    Ontem e hoje consumi avassaladoramente todos os textos do Armando e sobre o Armando que encontrei por aí. Agora de tarde, após ler a coluna do Renato Maurício Prado, já fechando o jornal, me deparo com algo que estava procurando………..
    A palavra do Mestre que se foi sobre os tacanhos ” dirigentes políticos amadores ” que insistem em guardar em forma de cartel o FUTEBOL só para eles. Eu tinha certeza que toda sua verve poética e romântica não iria se furtar de lembrar que: fora dos campos ainda vivemos medievalmente num enorme cartel. Com esse texto, Armando Eterno Nogueira me abençoa por sempre lembrar que nossa paixão não pode apagar o que rola fora das quatro linhas!!
    Estamos aqui de luto e a corja se mechendo para saber quem ficará no poder por aclamação e articulação de interesses pessoais e políticos seja no Clube dos Treze ou na Federação Paulista. Em contrapartida, uma Empresa administrada por meritocracia e boas práticas empresariais demite um Executivo que foi extremamente ” torcedor ” quando deveria ter sido ” corporativo ” . Parabéns para essa empresa. Se fosse um Clube de Futebol, o Diretor teria sido perdoado.
    Ai desses dirigentessauros quando nós, os torcedores, que consumimos e bancamos toda essa festa do FUTEBOL, acordarmos dessa hipnótica paixão e passarmos a cobrar gestão, transparência, 3 ou 6 anos no máximo num cargo, segurança nos estádios, clubes lucrativos e por aí vai!

    Irão se converter, se perder, se redimir, se entregarem ?

  7. 16
    george:

    Pergunta:

    - Armando Nogueira vivia fuxicando a vida dos boleiros? Queria saber quanto ganhavam? Quem namoravam? Que lugares frequentavam?

    Creio que não!

    Jornalista esportivo para Armando poderia ser repórter, comentarista ou cronista.

    Jornalistas deveriam seguir o exemplo, ao invés de escrever palavras doces.

  8. 15
    cesar afonço:

    Não canso de ler as crônicas de Armando Nogueira.

    Perdemos o último dos românticos na crônicas esportiva. Pelo menos ainda tive o prazer de poder acompanhar um pouco o trabalho do Mestre.

    Sem dúvida, ele me influenciou bastante na minha escolha em seguir o jornalismo esportivo. E por isso mesmo não poderia deixar de homenageá-lo em meu blog:

    https://newsfut.wordpress.com/2010/03/29/armando-nogueira-14011927-29032010/

    DESCANSE EM PAZ, MESTRE…

  9. 14
    Jorge:

    Hoje a maior demonstração de falta que vai fazer esse HOMEM é olhar para as arquibancadas vazias do MARACA. É como se, hoje estivessem jogando Brasil X Argentina com portões fechados. Agora quando ler uma crônica do mestre Armando Nogueira será como assistir um jogo do Canal 100, onde texto ganha movimento ou movimento é traduzido em palavras e ou coração aperta de tantas SAUDADES.

  10. 13
    alexandre gontijo:

    Gostei da texto.Para mim o grande legado de Armando Nogueira foi a legitimação social da classe de cronista esportivo.Com ele a crônica desportiva dialogava com os outros setores da imprensa.

    um abraço,

    Alexandre Gontijo

  11. 12
    Gustatavo Ribeiro:

    Belo texto como sempre. Parabéns, Poli.

  12. 11
    Evandro:

    O sentimento de perda transcende a morte de um belíssimo ser humano, mas sobretudo da perda do escrever correto nos aspectos idéia, pensamento e gramática, que tanta falta nos faz nos dias de hoje. Quiça existissem mais Armandos espalhados pela imprensa, governos e escolas deste Brasil, tristemente emburrecido ao cabo dos últimos anos, a reboque de um processo global de homogeinização da estupidez e empobrecimento humanos !!!

  13. 10
    helder andrade mendes:

    parabens poli pelo seu texto sbre dr.armando era realmente um mestre..e alvinegro acima de tudo um grande abraço e saudades do amigo
    saudaçoes alvinegras
    helder ex globo esporte ainda lembra de mim??
    poderia fazer uma coluna por onde anda helder rrsrs..
    abraços parceiro

  14. 9
    helder andrade mendes:

    grande amigo e competente reporter e editor gustavo poli..de uma geraçao dos orkuts,blogs,msn,e principalmente de uma internet que avança impiedosamente em nossos lares..mas seu texto revela simplicidade,generosidade e acima de tudo respeito ao mestre..aquele como vc mesmo diz nas linhas acima de seu texto ele enxergava muito..conheci dr.armando como meu diretor da central globo de jornalismo, era continuo,depois ass de estudio e produçao e tratava a todos com respeito e por isso ele sempre foi e sera o mestre armando nogueira que ele descanse em paz e que continue atraves de seus textos lembrar sempre de coisas boas e armando nogueira um botafoguense notorio era uma dessas maravilhas..
    parabens poli
    vamos nos falar.e que continue brilhando

  15. 8
    clayton bh:

    “SANTOS FC. 70 GOLS EM 20 JOGOS.“

    Q falta faz um texto seu sobre esses meninos do meu time…PQ DESDE JÁ, JÁ NÃO O SÃO COMPLETOS.

    HOMENAGEM DE UM SANTISTA A ARMANDO NOGUEIRA. BOTAFOGUENSE. CRAQUE DAS PALAVRAS.

  16. 7
    Fábio Lau:

    Poli

    Voce faz enorme justiça a memória do nosso mestre Armando. Embora botafoguense, jamais deixou de ver beleza ou destreza em aletas outros que não vestissem nossa camisa. Era capaz de antever num clássico como Fla X Flu, mesmo os de hoje que jã não tem o brilho e o encanto de outros tempos, emoção que parecem se guardar para os grandes momentos da vida. Que não se acabam. O jogo de ontem no Maraca resume bem o que um grande jogo pode proporcionar, em qualquer época. Armando era uma arma contra aqueles que tentam fazer do futebol algo enfadonho e insosso. E um aliado incondicional dos amantes da bola. Fazia-nos ver que o esporte, embora do povo, tinha algo de majestoso que o fazia, portanto, pertencer aos grandes homens. Que não o são por terem recursos apenas. Mas por permitirem aflorar a sensibilidade. Como Armando fez a vida inteira. E nos ensinou.

  17. 6
    gomi takanori:

    amiguinho da ditadura militar… esse ja vai tarde

    A democracia permite comentários insensíveis e mal-educados. Dizer que o Armando era “amigo da ditadura militar” ofende história e bom senso. Mas… vida que segue. Cada cabeça com sua sentença.

  18. 5
    Marcos Ribas de Faria:

    Poli,

    Nada surpreendente este teu belo texto partindo do grande Ezra. O Armando, que muitas vezes namorava os e nadava em mares parnasianos, recebeu uma bela homenagem aqui. Como a mesa que você citou no final. Nela, para termos, além de Albert, outro “estrangeiro”, colocaria Pasolini que tem um dos mais belos textos sobre tufebol (e que Armando reproduziu em sua coluna na longínqua época do JB), o poema entre o homem e a bola. Pasolini, além de um grande cineasta, foi um belo escritor (de ficção ou não – suas reflexões teóricas sobre o “cinème”, assim ele chamava, foram preciosas, foram e continuam a ser), era um apaixonado pelo futebol. Mostrou isso. E o mestre Armando mostrou esse lado de Pasolini aos leitores brasileiros nos idos dos anos 60. Ourtro tento de nosso mestre.
    Um grande abraço e parabéns,

    Marcos

  19. 4
    Luciano Frigeri:

    Hoje em dia temos excelentes jogadores de futebol no Brasil e no Mundo. Temos Kaká, Pato, Luis Fabiano, Adriano…

    Mas já tivemos Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Zico…

    Hoje temos excelentes jornalistas (esportivos ou não) no nosso país.

    Mas já tivemos Mário Filho, João Saldanha, Nélson Rodrigues…e agora Armando Nogueira…

    Por coincidência ou não (eu acho que não), a perda do lirismo do futebol caminhou junto com a perda do lirismo do jornalismo.

    Hoje narramos fatos, mas antes narrava-se fatos também. Mas a escrita transcendia esta realidade e viajavamos a um mundo que nós presenciávamos com os olhos mas eramos incapazes de perceber sem o intermédio desses privilegiados. São poucos. Armando é um deles.

    A Paz para Armando.

  20. 3
    Rodrigo Machado:

    Parabéns pelo texto, Poli. Fantástico.

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